Christiano Menezes (E) e Francisco de Assis, da Darkside Books, que publicou ‘Serial Killers, Louco ou Cruel?’ (Foto: Divulgação)
Esqueça títulos como ‘O Código da Vinci’, ‘Crepúsculo, ‘Quem Mexeu no Meu Queijo’, ‘50 Tons de Cinza’... Na contramão das gigantes que apostam suas fichas em best-sellers internacionais, pequenas editoras brasileiras investem em histórias e leitores segmentados, abocanhando uma parcela carente do mercado. Longe das gôndolas de destaque das grandes livrarias e da lista dos mais vendidos, segmentos literários alternativos encontram espaço nas estantes de um público fiel e crescente.
Essa é a ideia da Darkside Books, especializada em fantasia e terror, cujo mote é: livros de fãs para fãs. “Percebemos que existia um buraco no mercado, que nenhuma editora pensava em fãs de terror. ‘Psicose’, por exemplo, teve uma edição nacional há 50 anos, e eu não entendia por que era tão difícil encontrar um clássico como esse”, diz Christiano Menezes, nerd de carteirinha e diretor editorial da Darkside, que decidiu, então, começar a publicar o que gostaria de ler.
A empreitada deu certo: milhares de fãs órfãos de clássicos vêm impulsionando o sucesso da editora. Recentemente, Luana Piovani, que vive a policial e psicóloga forense Vera na minissérie ‘Dupla Identidade’, afirmou ter se baseado em Ilana Casoy, autora do livro ‘Serial Killers, Louco ou Cruel?’ para compor sua personagem. “Metade da minha Vera é Ilana”, afirmou a atriz em sua conta no Instagram.
Para Christiano, a atenção aos detalhes é um dos pilares do sucesso da editora, de apenas dois anos. “Nossos leitores têm um perfil de colecionador. A gente faz livros tipo brochura, com capa dura, em edições limitadas de mil, dois mil, às vezes só 500 exemplares. Quem gosta do clássico quer uma edição para guardar. Temos uma preocupação quase psicótica com o requinte”, brinca. “Tem muita gente que acha que vampiro surgiu em ‘Crepúsculo’, zumbi, no ‘Walking Dead’ e serial killer, no ‘Dexter’. A gente tem uma curadoria preocupada em embasar as referências da cultura pop da molecada, em mostrar os clássicos”, afirma ele, que já publicou, pela Darkside, ‘O Massacre da Serra Elétrica’, ‘Psicose’, ‘A Noite dos Mortos Vivos’, ‘Os Goonies’ e ‘Star Wars, A Trilogia’, entre outros.
O caso da Editora Malagueta é parecido. Única no país especializada em livros (de lésbicas) para lésbicas, a editora investe em um público pequeno e cativo. “Em 2007, eu vi que nem um único livro para lésbicas tinha sido escrito durante aquele ano. Considerando-se que 20 mil títulos são lançados anualmente e que os gays são 10% da população no país, vi que havia um mercado que não era contemplado”, diz Laura Bacellar, sócia da Malagueta. Assim, nasceu a editora, que desde 2008 publica livros destinados a meninas que gostam de meninas. Há de tudo no catálogo: lésbicas da cidade, do campo, ciganas...
“Eu sou lésbica. Com 19 anos, viajei para a Inglaterra e conheci livros para lésbicas, e isso foi importante para mim. Causa impacto achar na cultura esse tipo de representação do que você é. Sempre foi incômodo também essa ideia do gay ligada a histórias de sofrimento e melancolia. Uma das nossas preocupações é que nossos livros sejam positivos, que mostrem que lésbicas podem ser normais, felizes”, afirma ela, que acrescenta, ainda, que é difícil achar espaço nas grandes livrarias para as obras, mas que é possível comprar os livros pela internet. “Para muitas leitoras, ainda é um tabu receber um livro gay em casa, mas mandamos numa caixa fechada, num pacote discreto”, conta.
Já a Pallas Editora, negócio de família, passado de geração em geração desde 1974, preenche suas páginas com a cultura negra: religião, romance, ação afirmativa, discussões políticas. Na Pallas, todas as questões negras ganham voz. “Fomos muito pioneiros em tentar traduzir as religiões negras, como o candomblé e a umbanda, para a academia, passando uma linguagem tipicamente oral para o papel. Enfrentamos muito preconceito, era um nicho muito marginalizado. Ao longo do tempo, fomos conquistando um público fiel e o respeito tanto da academia como do povo de santo”, comemora a sócia Mariana Warth.
“Outra linha nossa é a juvenil, em que buscamos mostrar para o público infantil personagens negros como protagonistas. Em nossas histórias, o negro é médico, advogado, vai ao cinema. Tiramos o personagem negro do papel de ladrão, empregado, subordinado. Naturalizamos o negro em posições de destaque”, afirma.
IG Rio de Janeiro
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