A reportagem é de Cristiane Bonfanti, com a colaboração de Eduardo Bresciani, publicada pelo jornal O Globo, 01-09-2014.
Os cálculos da CNI consideram a média de investimentos para a ampliação da capacidade de água e esgoto realizados nos últimos anos e a projeção da população para 2033. Segundo o estudo, em 2011 foram investidos R$ 9,2 bilhões nessas duas modalidades do setor de saneamento, na soma dos aportes realizados por operadores, estados e municípios. A CNI destacou que, entre 1995 e 2011, a média anual foi de R$ 6,3 bilhões. Entre 2012 e 2022, seriam necessários investimentos anuais da ordem de R$ 136,3 bilhões (média de R$ 12,4 bilhões anuais) para alcançar as metas estabelecidas no Plansab. Entre 2023 e 2033, o valor seria de R$ 138,5 bilhões (média de R$ 12,6 bilhões anuais). O estudo da CNI não engloba os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2012, que foram divulgados este ano e mostram investimento de R$ 9,7 bilhões nos serviços de água e esgoto naquele ano. Desse valor, 90% foram aportados por prestadores de serviços, 6,4% por estados e 3,6% por municípios.
— O ritmo atual de investimentos precisa ser acelerado para que sejam cumpridas as metas de universalização do Plansab. Nos últimos anos, tem havido aumento nos aportes, mas é preciso investir mais de R$ 12 bilhões anuais, em média, para que a meta seja cumprida — disse Ilana Ferreira, analista de Políticas e Indústria da CNI.
HOJE, APENAS 37,5% DOS ESGOTO É TRATADO
Ilana destacou a importância do fortalecimento das parcerias entre os setores público e privado para ampliar o investimento em saneamento. A CNI também defende a desoneração de investimentos, como forma de reduzir o custo tributário de aportes para ampliação da capacidade de distribuição de água e coleta e tratamento de esgoto.
— A racionalização da tributação poderia ser conquistada com a mudança no cálculo do PIS/Cofins na cadeia produtiva, gerando créditos que poderiam ser abatidos quando esses recursos fossem integralmente aplicados em investimentos no setor — disse a analista.
De acordo com dados reunidos pela CNI, ainda hoje, apenas 37,5% de todo o esgoto gerado no país é tratado. Anualmente, 5,8 bilhões de metros cúbicos de esgoto são despejados sem tratamento diretamente na natureza. O problema relacionado à coleta e ao tratamento de esgoto atinge famílias como a da dona de casa Luciana Pereira dos Santos, de 37 anos. Desempregada, ela mora com os seus três filhos, que têm entre 9 e 13 anos, em um lote com piso de chão batido na região conhecida como Sol Nascente, a 30 quilômetros de Brasília. Luciana tem água encanada, mas não conta com rede de esgoto e vê o caminhão de lixo passar duas vezes por semana. A rua de Luciana, sem asfaltamento, tem lixo e esgoto a céu aberto. Em sua casa, os dejetos são direcionados a uma fossa construída no quintal e o mau cheiro é comum.
— Eu tento diminuir o mau cheiro com água sanitária, é muito ruim. Já vi muitas crianças da rua doentes, com virose, e casos de dengue — relatou.
Moradora da mesma região, a dona de casa Rayane Caroly, de 27, enfrenta problemas semelhantes. Vive no Sol Nascente com o marido e quatro filhos. Pelo menos duas vezes por ano, precisa pagar cerca de R$ 100 para limparem a fossa de sua casa.
— Tem também o lixo. Agora, em período de eleição, o caminhão vem mais. Mas, antes, ficávamos uma semana com lixo na rua — disse.
Procurado, o Ministério das Cidades afirmou que o estudo é de responsabilidade de seus autores e que, embora respeite, não comenta levantamentos de terceiros sobre saneamento nem entra no seu mérito. O ministério ressaltou, no entanto, que, de acordo com o Plansab, a estimativa de investimentos para alcance das metas em todas as modalidades de saneamento é de R$ 508,4 bilhões entre 2014 e 2033. Somente nas modalidades de água e esgoto, que são o foco do trabalho da CNI, os investimentos previstos para o período são de R$ 304 bilhões. “Cabe ressaltar que os investimentos previstos para o período são progressivamente crescentes e que os valores e metas do Plansab foram objeto de amplas discussões que envolveram profunda participação da sociedade brasileira e de setores organizados da área de saneamento do país”, informou o ministério, que observou que as metas dos Plansab foram aprovadas por quatro conselhos nacionais.
O ministério destacou que, em 2012, o índice médio nacional de tratamento dos esgotos gerados chegou a 39,1%. O índice médio nacional de atendimento por rede de distribuição de água da população urbana foi de 93,2% e da população total, de 82,7%. Em relação à coleta de esgoto por rede, o índice médio nacional da população urbana foi de 56,1% e, para a população total, de 48,3 %. Já o índice médio nacional de perdas de água na distribuição foi de 36,9%, com viés de queda nos últimos anos, ressaltou o Ministério das Cidades.
EMPRESAS PEDEM DESONERAÇÃO
O presidente da Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe), Roberto Cavalcanti Tavares, destacou a importância de um plano para melhorar o saneamento. Mas considerou que o governo precisa não apenas oferecer mais segurança jurídica para as empresas e para os investidores, como também desburocratizar o modelo de financiamento do setor. Ele defendeu ainda a desoneração e o estímulo à participação do capital privado nesse segmento.
— A exigência é para que apresentemos eficiência de empresa privada, mas temos que carregar a cruz da Lei de Licitações de 1993, que não nos garante adquirir melhor serviço, qualidade e agilidade — criticou.
AS PROPOSTAS DOS CANDIDATOS
Dilma: A presidente afirma que o índice de tratamento de esgoto cresceu 19% desde 2002 e que os investimentos cresceram de R$ 998 milhões em 2002 para R$ 10,3 bilhões em 2013. O programa coloca como meta “perseguir a universalização do abastecimento da água tratada e a expansão em todo o território nacional do esgotamento sanitário e do seu tratamento”. E diz que o detalhamento das propostas será feito posteriormente por grupos temáticos.
Marina: A candidata do PSB aponta parcerias com a iniciativa privada como um caminho para combater os problemas na área. “A flexibilização das normas, com controle social, deve ser considerada em nome de inúmeros benefícios a toda a sociedade brasileira”, diz trecho do programa apresentado na sexta-feira passada. O plano de governo fala ainda em ampliar investimentos e mantê-los em ritmo constante e progressivo, melhorar a gestão e incentivar estudos para melhoria das técnicas de tratamento de esgoto.
Aécio: O candidato tucano propõe incentivar o financiamento da reestruturação das empresas que operam na área, além de criar condições para que prestadores de serviço utilizem novas formas de contração, como Parcerias Público-Privadas. Defende a desburocratização. Também propõe o incentivo à criação de consórcios pelos municípios e ao reuso da água para irrigação e fins industriais.
Fonte: IHU Online
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