'Nunca vi essa situação em toda a história', afirmou Luiz Arthur Castanheira. Bacia hidrográfica abrange 504 municípios.
A Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco abrange 639.219 km² de área de drenagem (7,5% do país) e vazão média de 2.850 m3/s (2% do total do país). O rio tem 2.700 km de extensão e nasce na Serra da Canastra em Minas Gerais, escoando no sentido sul-norte pela Bahia e Pernambuco, quando altera seu curso para este, chegando ao Oceano Atlântico através da divisa entre Alagoas e Sergipe. A Bacia tem sete unidades da federação – Bahia (48,2%), Minas Gerais (36,8%), Pernambuco (10,9%), Alagoas (2,2%), Sergipe (1,2%), Goiás (0,5%), e Distrito Federal (0,2%) – e 504 municípios (cerca de 9% do total de municípios do país).
A nascente que fica em São Roque de Minas, no Centro-Oeste do estado, não é determinante para o volume de água da bacia, mas de acordo com o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, serve como um ‘termômetro’ uma vez que o nível dos reservatórios da região é fundamental para o rio.
Estiagem
A estiagem deste ano ocorre em todo o país há vários meses, exceto na região Sul. No estado de Minas Gerais diversas regiões enfrentam o problema da seca, entre elas cidades do Triângulo Mineiro, Zona da Mata e Centro-Oeste de Minas, que já chegaram a decretar estado de emergência pelo desabastecimento e até multar moradores que forem flagrados desperdiçando água.
E ainda não há previsões animadoras. A primavera começou às 23h29 de segunda-feira (22) e, de acordo com o meteorologista Marcelo Pinheiro, da empresa de meteorologia Climatempo, a tendência é que na primavera a temperatura fique de 2ºC a 3ºC acima da média nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. No Sul, a temperatura pode ficar até 3ºC acima da média. Além disso, a estação deve ser caracterizada por temperaturas um pouco acima do normal, com chuvas dentro do normal na maior parte do país e não devem ser suficientes para resolver o problema de falta d’água nos reservatórios, de acordo com meteorologistas. E especificamente para a região afetada pela seca na região Centro-Oeste de Minas Gerais, a previsão é de que o período de chuvas tenha início em outubro deste ano.
Incêndios na Serra da Canastra
Para piorar a situação da seca, nos últimos meses foram registrados vários focos de incêndio no Parque Nacional da Serra da Canastra. Em julho, um deles devastou cerca de 40 mil hectares de vegetação nativa. “Combatemos as chamas usando água do parque, mas isso não foi o fator mais agravante. O que pesa mais é a seca, a falta de chuva. Corre pouquíssima água e essa realidade é triste”, disse Castanheira. O último ocorreu recentemente, durou quatro dias e, pouco depois outros focos foram registrados.
Situação alarmante
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, disse ao G1 que embora a notícia não tenha chegado ao conhecimento do comitê, não causa surpresas em virtude de essa ser uma das estiagens mais graves desde que foi iniciado o acompanhamento histórico do rio. “Isso não é comum, é preocupante. Não há dúvida de que algo em grande escala está mudando em nosso ecossistema. As principais barragens do Alto São Francisco, que são a de Três Marias e Sobradinho, estão sendo ameaçadas e se aproximam do limite de volume útil de água, ou seja, a água dos principais afluentes estão chegando ao nível zero e a biodiversidade do rio está comprometida, além de a qualidade do rio estar se deteriorando", explicou.
O volume útil da Represa de Três Marias, que é a primeira barragem construída ao longo do rio, chegou a registrar 6% nesta semana. A de Sobradinho, 31%. “São níveis baixíssimos e que causam impactos catastróficos, como já vem ocorrendo no Baixo São Francisco. Com o nível baixo, o oceano está invadindo o rio e salinizando a água doce, o que compromete a biodiversidade do rio e a qualidade”, concluiu Anivaldo.
Soluções
Contar com o período úmido que se inicia após outubro é utopia, segundo Anivaldo. Ele defendeu que, independente das mudanças climáticas, a questão é emergencial e que para ser amenizada deve-se mexer no modelo da bacia enérgica do rio, realizando um grande pacto das águas.
Ele ainda pontuou que o poder público tem que tratar a bacia hidrográfica com prioridade por ser uma das principais do Brasil e mais vulneráveis. “O Rio atravessa quase 1 milhão de quilômetros quadrados de região semiárida, atende a região nordeste e grande parte de Minas, onde há uma grande vulnerabilidade hídrica”, afirmou.
Diante à situação crítica, que na visão do especialista começou a se agravar em abril do ano passado, o CBHSF vai realizar audiências públicas com as pessoas diretamente ligadas à bacia. O diálogo terá duração de 18 meses e será feito com o governo federal, municípios, usineiros, mineradores, pescadores, população nativa das comunidades ribeirinhas e comunidade civil. O objetivo das audiências será discutir sobre o futuro da bacia e apresentar a urgência de investir na recuperação hídrica do Rio São Francisco.
Por:Caroline Aleixo e CarolinaPortilho
Do G1 Centro-Oeste de Minas
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