Apenas 83 candidatos de um total de 25,9 mil que disputam as eleições gerais deste ano se declararam indígenas (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Esta é a primeira eleição em que os candidatos a cargos federais e estaduais tiveram que declarar raça e cor, conforme definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com os dados concentrados no Tribunal Superior Eleitoral, pesquisadores conseguiram confirmar alertas e críticas que já vinham sendo endossadas por organizações sociais e entidades representativas.
“A partir de agora, com os dados oficiais, a gente tem uma forma concreta de pressionar uma mudança no sistema partidário, como foi com a questão do gênero que já tem a legislação [que reserva] 30% [das candidaturas para mulheres]. A gente sabia que tinha desigualdade, mas não tinha um dado oficial”, explicou Carmela Zigoni, assessora política do instituto.
Ela admitiu ainda que a situação indígena nas eleições é uma das mais complicadas, tanto pela resistência de outros setores às políticas destinadas a esses povos quanto pela aceitação das legendas. “Por uma questão cultural, os indígenas têm sua própria forma de organização política, mas já existe um processo de indígenas quererem se candidatar porque há uma compreensão de que eles têm que estar no espaço de poder. Os partidos têm que aceitar, mas nem sempre convidam ou promovem essas candidaturas.”
A maioria dos estados não apresenta candidatos indígenas. “Amazonas e Mato Grosso do Sul, que concentram as maiores populações indígenas do país, registraram nove e sete candidaturas respectivamente”, destaca o documento. Quase metade das candidaturas de indígenas está concentrada em três partidos: PT, com 16 candidaturas, seguido do PSOL (12) e do PCdoB (11).
Depois de convencer os partidos, tanto indígenas quanto negros e mulheres ainda precisam vencer outro desafio, segundo a pesquisadora. “Hoje quem financia as campanhas é um conjunto de interesses privados. Essas candidaturas [de negros, índios e mulheres] normalmente são minoritárias, têm menos recursos e menos espaço na mídia”, explicou Carmela, destacando a dificuldade de a sociedade conhecer esses candidatos e suas propostas.
No estudo, os pesquisadores do Inesc ainda alertaram que, mesmo que eleitos, candidatos indígenas terão mais uma barreira para vencer dentro do Congresso Nacional: a disputa de forças com representantes de setores do agronegócio e da mineração. “É o terceiro desafio. Se eleitos, terão que conseguir legislar dentro de uma Casa onde ainda os homens brancos são a maioria”, acrescentou Carmela.
As candidaturas de negros, que inclui pretos e pardos, estão concentradas principalmente nos partidos ligados às questões socialistas e operárias, como o PCB, PCdoB, PCO, PSTU e PSOL. Nas maiores legendas, a presença de negros representa, por exemplo, 41,9% das candidaturas do PT, 37,7% do PSB, 32,8% do PSDB e 26,5% do PMDB.
Na avaliação da assessora política do Inesc, já existe um equilíbrio maior entre homens brancos e negros. “Mas se você passear nos corredores do Parlamento vai se perguntar onde estão esses homens negros. Vamos ter uma análise depois das eleições”, anunciou. Dos quase 26 mil candidatos, 38,6% são homens brancos e 30% são homens negros.
Agência Brasil
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