Faço um exame breve do ensino secundário no Brasil, portanto sem avaliar o ensino superior. Aos poucos, demonstro que o problema da educação está menos nas universidades, como muitos educadores apregoam, e muito mais na mentalidade dos jovens que terminam o ensino secundário. Esta etapa de sua formação é a que vai definir o nível dos cidadãos que se soltam nas arenas do mercado de trabalho e nas interações públicas. Não nos surpreendamos com que, na mesma calçada, seres mal-educados trombem com seres de nobreza cívica.
Para prosseguir meu raciocínio, é preocupante que os jovens tenham cada vez menos desejo de ir às escolas. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) indicam que somente 22,4% dos jovens de famílias pobres no Brasil completam o ensino secundário quando chegam aos 19 anos, enquanto 84,1% dos vinte por cento dos jovens de famílias mais ricas o terminam nesta idade (Priscilla Borges, iG Brasília, 29 de junho de 2014).
Ademais, meios de comunicação e profissionais da área informam-nos que escolas públicas são lugares de estrutura precária, professores desmotivados e sem autoridade, métodos enfadonhos de ensino-decoreba, tráfico de drogas, e provocações entre colegas que não se dão bem. Quando gestores escolares fazem algum investimento em infraestrutura e tecnologia, escolas viram cenário de furtos e vandalismo. Mostra-se, assim, desrespeito com a formação dos jovens e denigrem-se tentativas de construção de um país com cidadãos.
A meu ver, há dois objetivos essenciais em relação ao ensino secundário no Brasil. O primeiro é o de reduzir a evasão escolar para que os jovens estimulem-se a frequentar regularmente as escolas. Mas não basta que essas pessoas estejam nas escolas. O segundo é a necessidade de melhorar também o aprendizado e as técnicas com que se formam nossos jovens. Só assim a chance será maior de que tenhamos mais afinidades cívicas com as outras pessoas com quem nos encontramos nas calçadas. Enquanto alguém pacientemente preserva a limpeza de logradouros públicos, o outro não hesita em cuspir nos pés daquele transeunte.
Na situação atual, o ensino secundário prepara para o êxito no vestibular, mas descuida a formação para a vida. Muitas vezes, ainda, os professores descontam seus fracassos em estudantes que aguardam estímulos de educadores em casa e nas instituições educativas. Aponto também a chatice da formação formulaica (e.g. fórmulas de física, matemática) em prejuízo do preparo cidadão. Isto ocorre porque, muitas vezes, o próprio professor é um meio-cidadão que tem pouco a oferecer a seus ouvintes ávidos de conhecimento.
Por isso, o processo de aprendizagem tem que ser lúdico e agradável. É preciso, igualmente, relacionar o aprendizado científico, social e técnico com assuntos que estudantes experimentam em seu dia-a-dia. É possível fazer isso com visitas a feiras e laboratórios. Assim sendo, há esperança num despertar de interesse dos jovens no ambiente escolar e nos conhecimentos que melhorariam suas relações com os outros e seu entendimento do mundo.
A vida é cheia de imprevistos, situações que exigem raciocínio e desafios de relacionamento. Assim, a remuneração de professores não é tão simples para resolver o problema da educação como a fração hora/aula sugere. O interesse dos jovens, por sua vez, depende muito de que suas famílias esperam deles e do modelo de Brasil que o Estado e as organizações privadas e civis desejam. Por conseguinte, a educação implica o entendimento de fases e processos de formação de cidadãos. E ela continua a moldar os adultos que povoam este país.
Por isso, leitor, é importante que pensemos juntos na educação.
Igualmente, estendamos as mãos aos que têm fome de mudanças.
Colaboração de Bruno Peron Loureiro, mestre em Estudos Latino-americanos pela Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM), para o EcoDebate
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