segunda-feira, abril 28, 2014

Copa pode dar em zebra nas eleições


 (Greg/DP)
Evento que prometia dar um "banho de cuia" nos adversários do PT e fechar com chave de ouro a gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), a Copa do Mundo de 2014 transformou-se na variável mais imprevisível da eleição. A pouco mais de um mês para início do Mundial, a preocupação é visível entre os articuladores políticos da presidente, que temem ver transformados em "zebra" todos os esforços extracampo feitos pelo ex-presidente Lula para trazer, ainda em 2006, o torneio ao Brasil. A "ola" pode ser dada fora das arquibancadas, com previsão de várias manifestações de rua nas 12 cidades-sede, contrariando toda a cultura de que o Brasil é o país do futebol.

Em meio aos riscos de Dilma chutar "a bola quadrada", a orientação dada pelo Palácio é para que os petistas saiam da inércia e comecem a massificar os efeitos positivos que a competição garantirá ao país. Nesta última semana, ficou decidido que o próprio Lula vai enfrentar os adversários até meados de julho e depois repassar a bola à aliada. Ele vai comandar o "bateu levou" e contar com a ajuda de ministros com inserção junto aos movimentos sociais, como Gilberto Carvalho (ministro-chefe da Secretaria-geral da Presidência da República).


Embora estejam na torcida, sem o desafio de administrar o país, os presidenciáveis da oposição, como o ex-governador Eduardo Campos (PSB/PE) e o senador Aécio Neves (PSDB/MG), não devem incorporar o "já ganhou". Eduardo não revela se vai assistir a jogos em estádios de futebol, mas promete manter agendas regionais independentes. Alguns aliados sugerem que ele opte pela "catimba", com um jogo mais lento e uma certa discrição. Citam, por exemplo, que o Recife foi uma das cidades-sede mais criticadas nos últimos meses, tanto na questão da mobilidade, como na de segurança, e não conseguiu concluir, até agora, 26 das 28 estações do Corredor Leste/Oeste do BRT previstas para funcionar no Mundial.

Outros mais otimistas, no entanto, acreditam que esse é o momento para Eduardo se destacar. Em junho do ano passado, quando as manifestações atingiram o auge, o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, e a ex-senadora Marina Silva cresceram nas pesquisas de intenções de votos por serem identificados com a causa das ruas. Hoje, contudo, Marina é pré-candidata a vice de Eduardo e ambos dizem, por onde passam, identificarem-se com as reivindicações. "Não temo as manifestações. Já fui muito às ruas como jovem, como militante. Todas as vezes que fomos às ruas, foi para melhorar o Brasil", afirmou o socialista em Cascavel, no Paraná, na semana passada.

O senador Aécio Neves (PSDB) também não quer levar "uma bola nas costas". Ele vai ver alguns jogos em Belo Horizonte - capital do seu estado -, Manaus e Salvador, onde tem aliados no comando, mas pretende ter uma agenda discreta. Especialmente porque o governo de seu aliado em Minas, seu reduto eleitoral, também pode virar vidraça. Belo Horizonte, por sinal, foi uma das cidades-sede onde o clima esquentou bastante no ano passado, com manifestantes ao redor do estádio e confronto com as forças de segurança. "Quem quiser faturar com a Copa, vai quebrar a cara", tem advertido o parlamentar em conversa com mais próximos.

Segundo lideranças políticas que falam em reserva, embora Aécio e Eduardo estejam numa posição mais confortável, não haverá como descolar os protestos de toda a classe política. O efeito Copa, aliás, será um divisor de águas na eleição. Dilma sobe ou despenca de vez e seus adversários seguem no mesmo ritmo. No futebol, como na política, o segundo lugar significa nada.

Fonte: Diário de Pernambuco

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