Lançado este ano, o Água Doce atende, atualmente, a 100 mil pessoas por meio de 150 sistemas de dessalinização espalhados pela região. A meta do governo é atender a um quarto da população do Semiárido, o equivalente a 2,5 milhões de pessoas, até 2019.
Alguns desses sistemas, porém, vão além de apenas oferecer água potável às pessoas. Algumas comunidades, cujos poços têm maior vazão, contam com o chamado Sistema de Produção Integrado, no qual a água resultante do processo de dessalinização que, normalmente, é jogada fora, contaminando o solo, é aproveitada. A água imprópria para o consumo humano, chamada de concentrado, é usada na criação de tilápias em dois tanques. Os peixes são vendidos à população e a renda é revertida para manutenção do próprio sistema.
Outro tanque recebe uma água rica em matéria orgânica, a que foi usada na criação dos peixes. Ela é destinada à irrigação de uma planta chamada erva-sal, usada na produção do feno, que alimenta cabras. É esse sistema sustentável de produção que vai passar a funcionar em Santana do Ipanema. O sistema existe desde junho de 2012 na comunidade de Timbaúba, no município de Cacimbinhas, também em Alagoas.
“Assim fecha-se o ciclo. Desenvolve-se a comunidade, criam-se condições para que ela possa ser independente do ponto de vista de recursos hídricos, faz-se inclusão social e qualifica-se as pessoas. E o melhor é que tudo é pactuado com a comunidade”, disse Izabella Teixeira, ao visitar a comunidade de Timbaúba. Segundo a ministra, o importante é firmar parcerias e ouvir as comunidades para ampliar o Sistema de Produção Integrado por todo o Nordeste.
“As tecnologias estão aí e os custos são baixos: cerca de R$ 450 por pessoa. É um aprendizado para o Brasil entender como se lida com água. E este povo está dando um show. E quem está discutindo mudanças do clima tem que ver essas soluções que o país está adotando para adaptação, por exemplo. Isso é um projeto concreto de adaptação”, acrescentou Izabella.
O agricultor Reginaldo de Amorim e a mulher, Elisabete Caetano, destacam as melhorias que tiveram com a implantação do programa. Moradores de uma comunidade localizada em Cacimbinhas, eles tinham que andar cerca de 30 minutos para conseguir água potável em açudes ou barragens.
Hoje, eles pagam R$ 5 e têm direito a dois galões de 200 litros por mês. “Mudou muito. Agora, a gente bebe água de ótima qualidade. E tem a criação de peixes, que beneficia a comunidade”, diz o casal. O dinheiro que eles pagam pela água é revertido na manutenção do sistema e em ajuda de custo para os operadores, membros da comunidade.
Ter água potável perto de casa melhorou a vida de todos. “A coisa melhorou muito. Agora temos água mais perto e melhor. Na época em que bebíamos água dos potes, de barragens, era água da terra”, lembra Irani, outra moradora da localidade. Também agricultora, Irani conta que, anos atrás, precisou de furar o cano no qual corria água do Rio São Francisco. “Não tínhamos onde buscar água, porque a barragem tinha secado. Fomos lá de noite e furamos o cano. A polícia passava a gente sabia que que era proibido, mas estava com sede e não tinha água para nada. Era um desespero.”
Para o coordenador nacional do Programa Água Doce, Renato Ferreira, o processo de dessalinização desenvolvido no Semiárido poderia ser adaptado para captar água do mar e suprir cidades que já sofrem com o racionamento de água. “O bom desses sistemas é que eles são modulares. Então, o próprio sistema se adapta à quantidade e qualidade da água. [O sistema para captar água do mar] não seria diferente desse, só em maior proporção”, explica Ferreira. Na opinião de Ferreira, os setores responsáveis deveriam considerar mais o tratamento de água do mar.
“Acho que é uma questão de discussão tecnológica. A maioria dos setores de saneamento do país ainda está focada no modelo de tratamento de água convencional. E a maioria desses sistemas ainda pensa na água daquele rio de antigamente, que tinha um pouquinho de esgoto doméstico, um pouco disso, um pouco daquilo. E hoje não, é metal pesado, agrotóxicos, hormônios. Quer dizer, os sistemas convencionais de água atuais não tiram boa parte disso”, conclui o coordenador do Água Doce.
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