Descoberto 30 metros abaixo da superfície, o P. sibericum não infecta animais ou seres humanos. No entanto, após introduzir-se em uma ameba, ele multiplica-se milhares de vezes e mata sua hospedeira em cerca de 12 horas.
Para o homem, o maior perigo revelado pelo renascimento do vírus gigante é a fragilidade do solo siberiano, cuja camada de gelo torna-se menor e mais exposta a cada ano. Dali podem vir outros vírus, prejudiciais à nossa saúde.
- Esta é uma amostra de que vírus patogênicos para humanos e animais também podem estar preservados em camadas antigas do permafrost. Alguns, inclusive, podem ter sido responsáveis por epidemias mundiais - alerta Chantal Abergel, coautora do estudo sobre a redescoberta do P. sibericum, publicado esta semana na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS).
Diretora do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da Universidade de Aix-Marseille, da França, Chantal avalia que as mudanças climáticas têm uma responsabilidade “grande, mas indireta” no ressurgimento de outros vírus.
- O aquecimento global está derretendo continuamente o permafrost, e áreas próximas à Sibéria estão cada vez acessíveis a atividades econômicas como a mineração e a perfuração - lamenta.
A equipe de Chantal está analisando o conteúdo do DNA presente nas camadas de permafrost já escavadas. Desta forma, é possível identificar a assinatura genética de vírus que se assemelham a patógenos humanos.
- Se encontrarmos algum, o risco de contágio é real. Se não, estaremos seguros - destaca. - É claro que não tentaremos “ressuscitá-los” em laboratórios.
Ainda de acordo com a pesquisadora, a identificação do P. sibericum mostra como a comunidade científica conhece pouco estes organismos. A classe dos vírus gigantes, por exemplo, só foi descrita dez anos atrás.
O P. sibericum é o maior vírus conhecido. Tem 1,5 micrômetro, comprimento suficiente para que possa ser observado por um microscópio.
Os autores do artigo da PNAS ressaltam que o ser humano conhece pouco a biodiversidade do planeta, especialmente em ambientes inóspitos. Os vírus gigantes contêm um grande número de genes sem qualquer semelhança aos já vistos em qualquer outro organismo.
- O fato de podermos ser contaminados por um vírus que acometeu os neandertais é uma evidência de como estamos errados ao dizer que um vírus foi “erradicado”. Isso nos dá uma falsa sensação de segurança - explica. - Deveríamos manter, ao menos por precaução, um estoque de medicamentos.
Os últimos vestígios de neandertais na Sibéria são de 28 mil anos atrás. A população provavelmente morreu devido a uma epidemia.
O desconhecido mundo dos vírus pode conter explicações para questões fundamentais da ciência - entre elas, como ocorreu a origem da vida no planeta e a diferença na evolução dos vírus em relação a outros organismos.
Fonte: Renato Grandelle em O Globo
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