sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Aldeia pipipã terá extensão escolar em Floresta, no Sertão de Pernambuco

Extensão deve atender aos alunos indígenas dos anos iniciais.
Demais estudantes serão matriculados em escolas da cidade.

A Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco deve instalar uma extensão escolar para povo pipipã, da aldeia Pedra Tinideira, localizada a 60km de Floresta, no Sertão. Eles estavam sem professores há quatro anos e participaram de várias reuniões sobre a situação, nas quais não teriam obtido proposta plausível do governo estadual. De segunda (24) a quarta-feira (26), um grupo esteve acampado na Gerência Regional de Educação do Submédio São Francisco e conseguiu se reunir com a gestão, ocorrida nesta quinta-feira (27).

No encontro, ficou decidido que, a partir de 10 de março, a "extensão vai oferecer as séries dos anos iniciais do ensino fundamental para as crianças da dissidência. Alunos dos anos finais do ensino fundamental serão matriculados na Escola Municipal Joaquim Salvador de Souza Ferraz, enquanto os do ensino médio irão para a Escola Estadual José Ferreira da Silva. As duas escolas ficam em Floresta", segundo a assessoria da Secretaria de Educação. A pasta comunicou ainda que o estado proverá o material didático e que as professoras serão indicadas pelos indígenas. A extensão será de uma das quatro escolas já existentes nas terras do povo pipipã.

 
Entenda o caso

Cerca de 60 indígenas estiveram acampados na Gerência Regional de Educação – Sertão do Submédio São Francisco. Mulheres, homens e crianças da etnia pipipã pediam professores para 43 alunos da aldeia Pedra Tinideira, na faixa etária de 4 a 31 anos, que não receberiam educadores há quatro anos. A manifestação ocorreu de forma pacífica e eles realizaram rodas de danças típicas para chamar atenção. O acampamento começou na manhã da segunda (24) e terminou na quarta-feira (26).

“Nós participamos de aulas há um tempo com uma menina ensinando debaixo de uma palhoça ou de uma árvore. Ano passado, participamos pelo município, mas o estado é quem é responsável pela educação dos indígenas”, afirma o cacique Alírio Avelino. Audiências para resolver o problema foram realizadas com várias instituições, incluindo o Ministério Público, porém, não obtiveram êxito, ainda segundo ele.

Manifestação foi feita com danças típicas da etnia.
(Foto: Francisco Souza/ Arquivo Pessoal)

A escola mais perto para os pipipã fica a 35km da aldeia Pedra Tinideira, que conta com mais de 50 famílias. Já a cidade está a 60 km. No entanto, há instituições mais próximas, em outra maloca da etnia, a 6km. O problema é que as comunidades, mesmo sendo formadas por parentes, não convivem bem. “Os grupos são famílias, mas não se entendem. Não é de sangue e morte, mas algumas pessoas não têm capacidade de dizer 'Vamos viver unidos como a gente era antes'. Outro cacique e eu já tentamos unir, mas as pessoas da comunidade não quiseram”, explica.

Ele conta ainda que já informou a situação ao Conselho Tutelar, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Secretaria de Educação de Pernambuco.

Visita de técnicos da GRE
No dia 16 de janeiro, a aldeia recebeu visita de técnicos da Gerência Regional de Educação para verificar a estrutura de um prédio próximo, a fim de instalar salas de aula. O G1 teve acesso ao relatório. Este indica “espaço físico em boas condições”, onde pode funcionar “uma escola com 2 salas de aula, diretoria, secretaria, cozinha e banheiro”. No mesmo documento consta a primeira lista de possíveis alunos. A seleção foi confirmada pelos representantes dos indígenas, como pedido em audiência no Ministério Público, no dia 31 de janeiro, em Serra Talhada. O cacique Alírio Avelino, porém, afirma que a GRE nada mais fez.

Em outro documento a que o G1 teve acesso, os representantes ressaltam que “Considerando que a oferta de educação básica diferenciada aos povos indígenas é elemento básico para a garantia de uma educação voltada à preservação da cultura, costumes, crenças e tradições do nosso povo, vimos, pelo presente, solicitar dessa GRE providências urgente no sentido de atender a nossa aldeia” (sic). O pedido foi enviado para Maria Dilma Marques Torres, gestora da GRE – Sertão Submédio São Francisco, que o teria recebido em 15 de janeiro.

Impasse entre pipipã e secretaria
Na terça-feira (25), a Secretaria de Educação enviou nota ao G1 afirmando que o terreno da aldeia Pedra Tinideira, da etnia pipipã, não é demarcado pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Por esta razão, não seria possível a instalação de uma escola especial. Ainda na nota, a pasta comunicou a reunião desta quinta-feira.

O cacique Alírio Avelino da Silva contestou a informação da secretaria. "Toda terra está em processo de demarcação. Mês passado, representantes da Funai estiveram lá", contou. De acordo com ele, se a demarcação fosse um pré-requisito para uma escola especial, a aldeia pipipã em Caraíbas (da qual a Pedra Tinideira é dissidente) não poderia ter uma unidade desta, mas possui. "Ela também está sendo demarcada", afirmou o cacique.

Trecho do relatório da visita da Gerência Regional de Educação. (Foto: Reprodução/ Relatório da GRE)

G1 Caruaru e Região

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