domingo, janeiro 26, 2014

PT alerta: a partir de março, Lula vem aí tirar votos de Eduardo no Nordeste


Curado de um câncer que o impediu de participar efetivamente das eleições municipais de 2012, o ex-presidente Lula está determinado a rodar o país na campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff a partir de março, com foco especial no Nordeste, para se contrapor à candidatura do presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE); e em São Paulo, onde tentará acabar com a hegemonia do PSDB, há 19 anos no poder.

Na disputa presidencial, os petistas consideram o ex-aliado Campos um candidato mais forte do que o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG). Nas análises feitas pelo comando informal da campanha de Dilma, a avaliação é que o socialista é melhor de debate e tem um discurso mais atraente. Os petistas também estão preocupados com a possibilidade de a ex-ministra Marina Silva, que teve 20 milhões de votos em 2010, ser vice na chapa do socialista.


Por enquanto, o entorno de Dilma aposta nos desentendimentos entre Campos e Marina. Petistas assistem com gosto as divergências entre o PSB e a Rede na formação de palanques regionais e avaliam que ele dará um tiro no pé se, para atender Marina, implodir a aliança com os tucanos em São Paulo e Minas Gerais.

Quando a campanha começar, os petistas pretendem explorar supostas incoerências entre o discurso de Campos e a prática, como a aliança com a família Bornhausen, ex-PFL e ex-DEM, e a defesa de uma nova política.

Aliados de Dilma também avaliam que Marina não terá este ano a mesma força que em 2010, porque se aliou a um político e a um partido tradicionais. Por enquanto, a estratégia de Dilma é não entrar pessoalmente no fogo cruzado da pré-campanha. Mas o Planalto tem cobrado do PT respostas a críticas ao governo feitas por Campos.

Em relação ao PSDB, o PT aposta no fogo amigo do ex-governador José Serra. Petistas atribuem a ele a aliança entre o PPS de Roberto Freire, aliado de Serra, e o PSB de Campos.

Economia é preocupação de petistas na campanha

No próprio quintal, a preocupação do PT, do ex-presidente Lula e do Planalto é com a economia e, principalmente, com o controle da inflação. Outro motivo de apreensão é a antipatia do empresariado em relação ao governo Dilma, considerado fechado, imprevisível e intervencionista. Lula tem se reunido com empresários para tentar reverter o quadro. Ele também tem costurado alianças nos estados para a formação dos palanques, além de tentar resolver os nós da reforma ministerial, fonte de irritação de aliados, como o PMDB.

Seguindo o roteiro da pré-campanha, Lula cancelou viagem a Minas, no dia 7, para participar da largada da campanha do ministro Alexandre Padilha (Saúde) ao governo de São Paulo. Tal é a disposição de Lula para rodar o país que auxiliares de Dilma traçam a logística da campanha como se houvesse dois candidatos: a própria presidente e Lula.

A ideia é articular a agenda dos dois de forma que, quando Dilma estiver no Sul, por exemplo, Lula estará no Norte. Ele terá a vantagem de fazer campanha em tempo integral, enquanto Dilma terá restrições impostas pelo cargo. Na organização das viagens, onde houver mais de um candidato da base aliada para governador, como no Rio, em vez de Dilma ir aos diversos palanques, será organizada uma atividade própria e os aliados serão convidados. Esse modelo tende a gerar menos saias-justas para Dilma.

Lula não estará preso aos compromissos firmados entre Dilma e os aliados. O PT quer que Lula priorize os candidatos petistas a governador, senador e deputado — outro problema com os aliados, que apostam na popularidade dele para conquistar votos.

— É natural que ele priorize os do PT. O que importa é a gravação para o programa de TV, é o palanque eletrônico, que é 99% da campanha — avalia o vice-presidente do PMDB, senador Valdir Raupp.



Jornal O Globo