O concurso é um exemplo eloquente de como o negro é tratado na TV brasileira: sempre relegado a papéis secundários ou carregados de clichês, sejam eles negativos ou supostamente positivos, como a alegria ou a malemolência atribuídas às pessoas de cor. Quando estão em evidência, é dançando freneticamente no "Esquenta", o equivalente televisivo a uma grande festa na senzala.
Outra disputa de beldades promovida pelo mesmo "Fantástico" atesta esta exclusão. O "Menina Fantástica", concurso para revelar uma top-model, tinha pouquíssimas negras na disputa. Às belas negras, resta o Carnaval e a possibilidade de um reinado até a quarta-feira de Cinzas. Passarela da moda? Só com sorte ou por conta de míseras cotas, como as adotadas no último Fashion Rio.É como se mulher negra e bonita fosse sinônimo de passista de carnaval, apenas.
Uns bons anos atrás li "Carnaval, Malandros e Heróis", de Roberto Da Matta. Ele aborda, entre outras coisas, as inversões de valores em que o carnaval opera. O machão se veste de mulher e os pobres e iletrados tornam-se reis nas passarelas ou doutores no samba.
Isso ajuda a entender o papel que as aspirantes a Globeleza estão representando atualmente na mídia. A presença delas no "Fantástico" seria apenas uma subversão controlada e temporária da ordem estabelecida.
E enquanto as meninas dançam, o Show da Vida segue seu curso e a cada domingo consolida preconceitos raciais.
Reportagem de Marcos Sacramento publicada em DCM
Fonte: Carta Maior
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