A reportagem é de Alessandro Speciale e publicada no sítio Vatican Insider, 05-09-2013. A tradução é de André Langer.
Em Roma, a Secretaria de Estado vaticana convocou todos os embaixadores acreditados no Vaticano para explicar sua postura em relação à crise da Síria. Quem recebeu os 71 representantes diplomáticos do mundo (inclusive o dos Emirados Árabes Unidos, que normalmente mora em Madri), não foi o Secretário de EstadoTarcísio Bertone, mas o “ministro do Exterior” Dominique Mamberti.
Em São Petersburgo, onde se reúnem os líderes dos 20 países mais ricos do mundo, chega a carta enviada pelo Papa Francisco aos líderes dos países. “A violência nunca traz a paz, condição necessária para tal desenvolvimento”, escreveu o Pontífice, que destacou como nestes dois anos de conflito na Síria “muitos interesses particulares prevaleceram desde o começo do conflito sírio, impedindo encontrar uma solução que evitasse o massacre desnecessário que estamos assistindo”.
Depois da convocação que fez durante o Angelus do domingo passado, o Papa Francisco voltou a dirigir-se aos líderes mundiais de forma muito clara e enfática: a comunidade internacional deve sair da inércia diante do conflito, deve abandonar qualquer “vã pretensão de uma solução militar” e buscar, “com coragem e determinação, uma solução pacífica através do diálogo e da negociação entre as partes interessadas, com o apoio unânime da comunidade internacional”.
Mons. Mamberti foi escolhido para articular com maior clareza o “plano” vaticano para que se volte a entabular o diálogo entre Assad e os rebeldes, embora pareça impossível, após dois anos de uma guerra sangrenta e de repressão.
Aos embaixadores, o “ministro do Exterior” vaticano não deixou passar a oportunidade para condenar o ataque contra civis com armas químicas em Damasco, mesmo que tenha impulsionado os Estados Unidos à decisão da ação militar.Mamberti falou de “possível uso de armas químicas” e indicou que espera que “as instituições competentes joguem luz sobre a situação e que os responsáveis prestem contas à justiça”.
Sobre o futuro da Síria, segundo o Vaticano o primeiro passo fundamental é “fazer parar a violência”, inclusive pelo perigo de que se deem consequências “imprevisíveis em diferentes partes do mundo”. Nas palavras de Mamberti se escutou um eco das palavras do secretário do Pontifício Conselho Justiça e Paz, dom Mario Toso, pronunciadas em uma entrevista à Rádio Vaticano, na segunda-feira passada, na qual advertiu que “o conflito na Síria contém todos os ingredientes para uma guerra de dimensões mundiais”.
Mons. Mamberti também destacou aos embaixadores três pontos para qualquer futuro eixo na Síria fruto de uma eventual negociação: diálogo entre as partes e reconciliação do povo sírio, conservação da unidade e da integridade nacional sem divisões internas nem de caráter religioso, garantia dos direitos das minorias com base no “princípio da cidadania” e defesa da liberdade religiosa. Mamberti, além disso, manifestou preocupação com a “crescente presença na Síria de grupos extremistas, com frequência provenientes de outros países”. Ao contrário, não houve nenhuma “postura” oficial ou pronunciamento em relação ao governo de Assad.
O porta-voz vaticano, o padre Federico Lombardi, desmentiu completamente a notícia de uma suposta ligação telefônica do Papa Francisco a Assad, embora não tenha chegado a negar que houvesse contatos através do núncio apostólico em Damasco, dom Mario Zenari. A notícia de um contato entre os líderes sírio e vaticano foi divulgada pelo jornal argentino Clarín. “Não constam outras iniciativas específicas” com outros governos do mundo, por exemplo, com o dos Estados Unidos, explicou o porta-voz Lombardi, que destacou qual era a linha vaticana, oportunamente comunicada durante o encontro com os embaixadores.
fonte: IHU Online
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