A taxa de matrícula nas escolas aumentou de forma muito expressiva, em todas as idades, mas o índice não foi melhor porque, a partir dos 15 anos, ainda houve forte evasão na década passada. Entre 2000 e 2010, a fatia de crianças de 11 a 13 anos frequentando os anos finais do ensino fundamental saltou de 13,7% para 71,8%; já a de adolescentes de 15 a 17 anos com o fundamental completo subiu de 3,6% para 23,7%.
Nesta década, a tendência está mudando, e os índices de evasão estão caindo também entre os adolescentes, porque muitos sonham com empregos urbanos, que requerem mais estudos. "Eu saí porque ia só para jogar, não estava ligando para a escola, só que estou arrependido para caramba", diz Bruno de Souza, de 18 anos, que estudou até o 7.º ano, e saiu há três anos. Ele não trabalha e é sustentado pelo pai, aposentado, e pela mãe, que recebe o Bolsa Família. "Esse lugar nosso aqui é fraco, agora, sem estudo, o cara se ferra, só arruma trabalho pesado", explica Bruno, que mora no povoado Serra do Exú, na zona rural de Manari. Ele pensa em voltar e acha que, se fizer até o 9.º ano, pode arranjar emprego em um supermercado.
Josefa Verônica Silva, de 16 anos, é um exemplo da recente mudança. Seus irmãos mais velhos, de 20 e de 18 anos, largaram a escola para trabalhar na agricultura. Josefa está no 2.º ano do ensino médio e tem planos de estudar Medicina em Arcoverde, a 100 km de Manari. Ela tentará ter uma boa nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e ingressar com bolsa por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do governo federal. Sua irmã Patrícia, de 10 anos, que está no 5.º ano, promete seguir o exemplo dela.
Os profissionais de ensino sentem que o Bolsa Família, que exige frequência na escola e a caderneta de vacinação em dia, representa uma pressão sobre os pais para manterem seus filhos estudando. "O desafio é fazer com que eles queiram aprender", avalia Osman Almeida, diretor de duas escolas municipais na zona rural.
A qualidade das instalações de toda a rede municipal melhorou com um projeto da prefeitura, chamado de "nucleação", que reduziu as escolas de 63 para 33. Salões precários, que misturavam turmas de várias séries e não tinham banheiros, foram fechados, e os alunos, transferidos para escolas maiores, novas ou reformadas e ampliadas. A concentração foi possível graças à melhora do transporte escolar. Manari recebeu quatro ônibus escolares novos no ano passado, e deve receber outros quatro neste ano. Nas escolas da zona rural, onde as estradas estreitas e de terra não permitem a passagem de ônibus, o transporte ainda é feito por camionetes adaptadas com bancos na carroceria, os paus de arara.
O caso de Josean parece ser uma exceção: em geral, as crianças ajudam os pais, mas no "contraturno", ou seja, quando não estão na escola. Eurides Oliveira, gari da prefeitura, conta que recebe R$ 322 do Bolsa Família, e vai inscrever dois de seus cinco filhos, de 13 e de 8 anos, no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), que paga R$ 25 por criança. O mais velho, que está no 3.º ano, "já faz serviço maneiro, vende lanche", conta Eurides. "Mas dou conselho que ele estude, para arrumar coisa melhor."
Na escola estadual de Manari, a taxa de evasão é a mesma da reprovação: 6%. Na verdade, os alunos não são reprovados, apenas desistem. E um fator de desmotivação é a distorção da idade. Entre os jovens de 15 a 17 anos, apenas 6% estavam cursando o ensino médio regular sem atraso, em 2010. Já entre os alunos de 6 a 14 anos, 45% estavam na série correta para a idade. Em 2000, eram apenas 22% e, em 1991, 4%. Isso sugere que a distorção de idade pode acabar com o passar do tempo.
Renda. O IDH de Manari evoluiu também nos outros indicadores que o compõem: renda e longevidade. Como ocorre em muitos outros lugares no interior do Brasil, a renda foi impulsionada pela aposentadoria e pelo Bolsa Família. José Abílio da Silva, de 63 anos, conta que ganhava R$ 4 de diária pelo trabalho na roça. Quando ele e a mulher, Maria Zelinda, de 61, aposentaram-se, há 3 e 6 anos, respectivamente, com um salário mínimo cada, a renda do casal se multiplicou mais de dez vezes. Eles fizeram até um empréstimo consignado de R$ 4.500 e construíram duas casas, uma para o casal e outra para a filha casada.
Há um boom de construção civil em Manari, impulsionado não só pelo crédito aos aposentados, mas também por obras da Cohab, que está concluindo 47 casas e vai erguer outras 100.
A agricultura e o comércio locais foram estimulados pela pavimentação da estrada estadual que liga Manari a outros municípios da região. O trajeto de 26 km até Itaíba, a cidade mais próxima, levava 1h30 pela estrada de terra; agora, faz-se em 20 minutos.
Dos 18 mil moradores, 7.400 são beneficiados pelo Bolsa Família. Há dez anos, eram 500. A prefeitura complementa a renda de 600 famílias com o programa Viver Melhor, uma bolsa de R$ 150, que também exige frequência na escola e vacinação.
Outra "bondade" importante, apontam muitos manarienses, é o programa federal que instala calhas e cisternas nas casas, para coletar e armazenar a água da chuva. Comparada consigo mesma, Manari tem melhorado bastante.
Estado de São Paulo
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