A reportagem é da revista Jesus, n. 7, de julho de 2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Para apresentar o quadro sobre esse dilema e sobre o tema mais amplo do "planeta jovens", a revista Jesus organizou um fórum editorial do qual participaram quatro convidados especiais: o padre Armando Matteo, teólogo e autor do livro La prima generazione incredula; Chiara Giaccardi, socióloga da Universidade Católica de Milão e especialista em mídias digitais; o padre Renato Rosso, religioso carmelita com uma longa experiência pastoral em paróquias e à frente de uma escola católica na Terra Santa; e Luciano Manicardi, monge de Bose, que se ocupa na comunidade particularmente com a formação dos jovens. Nas páginas que se seguem, a síntese do animado debate que surgiu do encontro.
Publicamos aqui a sexta e última parte do debate. Confira também todas as partes anteriores em "Para ler mais".
Eis o debate.
Para concluir, pedimos a vocês três conselhos para não se desperdiçar esta JMJ, para fazer com que uma ocasião desse tipo traga frutos depois e para além do evento em si mesmo.
Armando Matteo – A JMJ funciona não se ela se torna o estilo da pastoral juvenil, mas sim da Igreja inteira. Por trás da pastoral juvenil, de fato, há a necessidade de encontrar os jovens, e essa hoje é a necessidade da Igreja. Sem mudança geracional, quer gostemos ou não, o cristianismo ocidental está destinado a fechar. E a mudança geracional diz respeito às paróquias, às vocações, aos movimentos.
Outro elemento: modular melhor os cânones da liturgia. Nós não podemos ter esse monoteísmo da missa, que absorve todas as atividades de trabalho da paróquia.
E depois a experiência da festa, da acolhida. No fundo, o que falta à geração dos adultos é a capacidade de se acolher, de se querer bem e não simplesmente de permanecer aferrados a si mesmos e aos seus próprios privilégios. A festa é o lugar onde nasce a vida adulta. No fim, nós nascemos para o domingo, nós somos filhos desse Deus que repousa. A Igreja como um lugar de encontro, de reunião, também entre as gerações.
Renato Rosso – Diante de manifestações oceânicas, como a JMJ, eu tenho algumas perplexidades. Muitas vezes se corre o risco de focalizar somente isso e de se esquecer do depois, do antes ou da periferia. O melhor é observar e ouvir.
Esta edição no Brasil, com o papa sul-americano, em um país onde há anos está em curso um confronto entre as Igrejas neopentecostais e o catolicismo social, poderia ser diferente das outras. Como ocidentais, por uma vez, olhemos, escutemos o que acontece, as mensagens que essa cultura, essa Igreja, esse universo religioso nos apresentam e vejamos, depois, como importá-lo na cotidianidade da nossa vida. Mas sem enfatizar: de fato, é preciso se perguntar o que as outras JMJs realmente produziram no cotidiano. Em suma, como todas as coisas positivas, olhemo-las pelo que elas são.
Chiara Giaccardi – A primeira resposta é a dimensão da reciprocidade: é um evento pensado para os jovens, em que os bispos também estão presentes exclusivamente na veste de pastores e em que realmente se faz um esforço de sintonia recíproca. É um momento de graça, que dá sabor ao presente e lança as premissas de uma renovação para todos. Uma ocasião, portanto, potencialmente generativa.
O segundo elemento positivo é o da experiência, que, de um lado, é propriamente físico, porque se sai do próprio mundo e vai-se a um outro mundo que não se conhece, e esse deslocamento pode ser sempre o ponto de partida de um processo virtuoso. O elemento da imersão é importante porque dá o "gosto" do evento. Mas depois são importantes emersão e reflexão, sem as quais não pode ocorrer a apropriação da vivência, que sozinha nos transforma.
Eu acredito que deve ser valorizada a preparação à viagem, tentando conhecer alguma coisa desse país, da sua situação social, da sua língua, da sua comida, da sua cultura. E depois, no retorno, deve ser encorajado o momento da restituição com relação a quem não pôde participar. Solicitar os jovens a encontrar canais de narração que os ajudem a se reapropriarem de maneira mais madura daquilo que viveram e de algum modo a doar isso a outros.
O terceiro momento é o da excedência, que é o elemento da festa. A religião católica é vista como a religião dos "nãos", dos preceitos, da mortificação. Na verdade, é o contrário do que ela é! Então, em momentos como esses, que são momentos, em certo sentido, exagerados – faz-se um esforço econômico, não se dorme durante dias, fala-se com todos –, esse elemento da excedência deve ser vivido plena e conscientemente, porque é a figura da alegria da nossa religião. Bento XVI também fala sobre isso na Caritas in Veritate, o "a mais" não é apenas o devido, mas é essa ulterioridade que nos dá a esperança e a alegria.
Luciano Manicardi – Três conselhos que são um só: insistir na centralidade dos Evangelhos e de Jesus. Enfatizar que a humanidade de Jesus "ensina a viver" (Tt 2, 12) e educa a nossa humanidade. Portanto, ler os Evangelhos buscando qual humanidade move Jesus nos seus encontros com os outros, como Jesus fala, que vida interior ele revela... Enfim, mostrar a fé como caminho de sentido, isto é, capaz de dar sabor (dimensão estética), direção (dimensão ética) e significado (dimensão filosófico-teológica) à vida do jovem.
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Fonte: IHU - Instituto Humanitas Unisinos
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