As pesquisas sociais são unívocas: cada vez menos jovens vão à paróquia ou se declaram católicos. Às vésperas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) do Rio de Janeiro, um fórum da redação da revista Jesus, com quatro especialistas, apresenta o quadro da situação sobre essa distância crescente entre a Igreja e a geração dos "nativos digitais".
A reportagem é da revista Jesus, n. 7, de julho de 2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"O cristianismo no Ocidente só poderá florescer se conseguirmos envolver a imaginação dos nossos contemporâneos". Essa lúcida afirmação do padre Timothy Radcliffe, teólogo dominicano e ex-Mestre Geral da Ordem, diz, em poucas palavras, todo o drama e todo o esforço da complicada relação entre a Igreja Católica e os jovens hoje. Uma relação que, às vezes, parece quase inexistente. E que as mais recentes pesquisas sociais traçam com dados brutos e cores escuras.
Às vésperas da JMJ, que acontece no Rio de Janeiro (Brasil) de 23 a 28 de julho, as estatísticas impressionam ainda mais: de acordo com o recente estudo de Alessandro Castegnaro e Giovanni Dal Piaz (Fuori dal recinto. Giovani, fede, Chiesa: uno sguardo diverso, Ed. Àncora), pouco mais de 13% dos jovens entre os 18 e os 29 anos de idade vão regularmente à missa todos os domingos. Segundo o Relatório Giovani, organizado pelo Instituto Toniolo, que será publicado em breve pela editora Il Mulino, ao invés, a cifra beira os 15%.
Mas a situação não muda muito: isso significa que 85% dos jovens (e talvez mais) não têm nenhum contato estável com o mundo eclesial. Para usar os termos do padre Radcliffe, a imaginação da imensa maioria dos menores de 30 anos não é tocada, de fato, pelo modo como a Boa Notícia evangélica é contada hoje em dia pela Igreja Católica.
Em suma, há coisas para se meditar. Especialmente às vésperas da JMJ do Rio de Janeiro, a primeira edição do "novo curso" vaticano inaugurado pelo Papa Francisco. Porque – já se sabe – os grandes eventos midiáticos, as reuniões de massa, as megafestas litúrgicas apresentam muitas oportunidades, mas também muitos riscos. O primeiro deles, provavelmente, é o de se transformar em experiências consolatórias para se reencontrar o calor daqueles que se assemelham a nós, oportunidades para reivindicar publicamente uma identidade religiosa que pode se revelar frágil na vida comum e cotidiana. Sem se preocupar em encontrar uma continuidade no "depois", uma vez que a JMJ se conclua. E sem se preocupar com os milhões de jovens que, ao invés, nem sonharam em ir ao grande evento.
Certamente, não há somente nuvens escuras no horizonte da JMJ. Trata-se também de uma grande oportunidade para os jovens e para os pastores que os acompanham de fazer uma experiência evangélica, de encontrar e se confrontar com coetâneos de todo o mundo, de saborear um caminho espiritual envolvente e apaixonante, de descobrir uma Igreja que sabe apreciar o sentido da festa. Portanto, riscos e oportunidades.
Para apresentar o quadro sobre esse dilema e sobre o tema mais amplo do "planeta jovens", a revista Jesus organizou um fórum editorial do qual participaram quatro convidados especiais: o padre Armando Matteo, teólogo e autor do livro La prima generazione incredula; Chiara Giaccardi, socióloga da Universidade Católica de Milão e especialista em mídias digitais; o padre Renato Rosso, religioso carmelita com uma longa experiência pastoral em paróquias e à frente de uma escola católica na Terra Santa; e Luciano Manicardi, monge de Bose, que se ocupa na comunidade particularmente com a formação dos jovens. Nas páginas que se seguem, a síntese do animado debate que surgiu do encontro.
Eis o debate.
Em poucas semanas, será aberta a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro. É um evento já tradicional, mas também será a primeira edição do pontificado do Papa Bergoglio. Portanto, será interessante não só ver o novo perfil da JMJ, mas também a abordagem do novo pontífice e a resposta do mundo juvenil. Em todo caso, torna-se cada vez mais atual e às vezes dramática a questão da relação entre fé e jovens. Todas as pesquisas dizem que os jovens entre os 18 e os 30 anos que vão à missa regularmente não superam os 15%; aqueles que rezam com uma certa regularidade são em torno dos 15-17%; aqueles que acreditam na existência de Deus superam em pouco os 30%; aqueles que estão certos da existência do além e de alguma salvação eterna, somente 13%. Trata-se de dados conhecidos, embora desoladores, para a Igreja Católica. Um pouco menos conhecida e não compartilhada é a questão da sua interpretação. Há muitas discussões sobre esse tema. Para sintetizar um pouco brutalmente os termos do dilema, poderíamos dizer: é a incredulidade difusa da cultura "mundana" que fez com que a fé e a Igreja Católica perdessem o apelo, ou, vice-versa, é o baixo apelo da Igreja Católica que levou cada vez mais jovens rumo à incredulidade?
Armando Matteo – Antes de responder, eu acrescentaria outro dado, inédito no panorama religioso católico italiano: as mulheres jovens não mostram diferenças substanciais com relação aos seus coetâneos do sexo masculino. Ao contrário, em algumas dioceses, a presença dos jovens do sexo masculino na missa é maior do que a das suas coetâneas. A meu ver, há uma mudança geracional em ação, por isso um pouco provocativamente eu falo da primeira geração incrédula.
De um lado, há uma mudança epocal e cultural muito profunda, e a inculturação clássica que funcionou até o Concílio Vaticano II tem muitas dificuldades hoje. A ideia de eternidade, de paraíso, de alma, de salvação, que não são simplesmente categorias cristãs, mas pertencem em sentido mais amplo à religião, não funcionam mais hoje. Somam-se a isso também mudanças extraordinárias – do digital aos progressos da medicina, que permitiram um alongamento da vida – que estão substancialmente redefinindo o real. Tudo isso incide na relação com a religiosidade. Danièle Hervieu-Léger diz que vivemos um momento em que a tradição cultural do cristianismo é ilegível.
Por outro lado, é preciso dizer que a Igreja perde apelo também por causa dos seus próprios erros. A fórmula da JMJ ou a dos movimentos parecia ter resolvido a crise das paróquias e do associacionismo clássico. Na realidade, há muito pouco investimento pastoral no mundo juvenil depois dos 18 anos. São muito poucos os sacerdotes, as religiosas e os leigos à disposição para a pastoral universitária, é muito escassa a relação entre a Igreja no seu aparato oficial e os professores de religião que são os únicos que têm um contato visceral com os jovens (um professor de religião encontra em média até 300 pós-adolescente na sua atividade).
O afastamento da Igreja é acompanhado pelo fato de que os jovens declaram ter uma abertura à transcendência. Sobre esse fator, há diversas escolas de pensamento: alguns estudiosos separam de maneira muito clara o distanciamento da Igreja e da espiritualidade, e não falam de incredulidade, mas de um standby na prática religiosa. Eu represento uma alma mais pessimista, porque – a meu ver –, por trás desse afastamento, está a ineficácia da transmissão da fé: nas dinâmicas sociais, culturais e familiares não se entende mais para que serve o Evangelho para a qualidade humana da vida.
Chiara Giaccardi – Eu acredito que os dois nós problemáticos levantados contêm, ambos, uma parte de verdade. Na idade moderna, o ser humano tenta se colocar no lugar de Deus, como Prometeu. A ideologia do ser humano que se faz por si só, no entanto, não é nossa. Na cultura italiana, sempre foi bem clara, ao contrário, a ideia de herança, de transmissão, de geração, do ter recebido, do restituir.
Mas depois fomos colonizados pela mitologia do self-made man, pelo ideal da autonomia, do não precisar de ninguém, da autorrealização como objetivo primário. Nesse quadro antropológico, a dimensão da relação se torna ou um obstáculo ou um instrumento, porque, contudo, a centralidade está no eu. As relações se tornam, então, "contratos"; a dimensão do interesse e do bem-estar pessoal acabam orientando toda ação. Portanto, de um lado, temos todo o movimento de domínio da natureza que, de cosmos nas mãos de Deus, se torna mundo nas mãos do ser humano através da técnica, que não aceita limites senão o da "fatibilidade". Por outro lado, como escrevia Heidegger, ocorre esse "ensenhorear-se" do ser humano no seu próprio fundamento, na convicção de não precisar mais de ninguém.
Há uma célebre escultura de bronze do artista Bobbie Carlyle que representa bem a suposta autossuficiência do self-made man, imortalizado no ato de esculpir-se sozinho: um tronco humano com martelo e cinzel, e o resto da base ainda informe. É uma imagem paradoxal, mas que nos é apresentada como o modelo a que devemos aspirar. Um modelo que uma geração inteira cultivou como se fosse o único caminho da libertação. Hoje, observando o mundo dos "nativos digitais", podem-se captar sinais de crítica implícita a esse imaginário: estar em rede, de fato, significa acima de tudo estar-com e compartilhar. Chamou-me muito a atenção, durante a eleição do Papa Francisco, a foto da Praça de São Pedro iluminada pelos celulares, pelos tabletes: para estar plenamente ali era necessário e bonito compartilhar o evento com quem não estava. Essa imagem é útil para entender como a dimensão digital não é o lugar de uma presença enfraquecida, de um eu alienado. No máximo, de uma presença aumentada pelo fato de ser compartilhada com outros.
Diante de uma cultura do individualismo que entregamos às novas gerações, a rede se torna o lugar em que se busca continuamente transformar a conexão em relação, ou seja, passar do plano tecnológico para o antropológico. Essa é uma crítica implícita ao modelo do individualismo e um potencial para se trabalhar, já que expressa uma necessidade profunda que deve ser ouvida. E aqui eu volto ao tema inicial. Eu acredito que, se a Igreja tem uma "culpa", é a de não ter ouvido o suficiente a exortação da Gaudium et Spes a ler os sinais dos tempos e a falar as linguagens que as pessoas possam entender, sobretudo as jovens gerações. Esse esforço, talvez, não foi feito de modo adequado, e, assim, criou-se uma distância, onde, ao invés, comunicar significa justamente "reduzir a distância", fazer crescer o que é comum.
O estilo comunicativo do Papa Francisco é um instrumento preciosíssimo de pedagogia da comunicação. O Papa Francisco caminha a pé, se afasta das trajetórias rígidas do cerimonial, se aproxima das pessoas e as toca. A dimensão do contato deve ser redescoberta, porque, antes mesmo de dizer qualquer coisa, o fato de fazer sentir a proximidade por parte da Igreja é fundamental. Só dentro desse encontro e graças à confiança que dele deriva, pode-se pensar hoje em um caminho de fé.
A rede, além disso, nos ensina algo muito importante. A autoridade de ofício não funciona mais: primeiro é preciso demonstrar respeitabilidade. A Igreja não pode mais dizer: "Eu sou a Igreja e, portanto, tu deves me escutar". Assim como a mãe não pode mais dizer: "Eu sou a tua mãe e, portanto, tu deves fazer o que eu te digo". Esse modelo não se sustenta mais, e talvez isso não seja ruim. Primeiro, é preciso construir a relação de confiança. E confiança, fé, confiança, fidelidade e laço são todos parte de uma mesma constelação semântica, porque têm a ver com fides, que é a corda, o fio que nos une. No individualismo, não há fé, porque todo laço é um limite, uma prisão do eu. Ao invés, se a perspectiva se inverte e volta a ser acima de tudo relacional, então talvez também haja as condições para retomar o discurso da fé em uma perspectiva diferente e através de novas linguagens, com um novo olhar, capaz de oferecer esperança nestes tempos difíceis.
Renato Rosso – Eu parti da Itália no fim dos anos 1990. Na paróquia onde eu estava havia uma presença de jovens significativa na missa dominical. Quando eu voltei, depois de 12 anos, vejo que os jovens diminuíram muito. Talvez, eu disse a mim mesmo, faltaram momentos de agregação séria e profunda, em que o jovem pudesse se sentir partícipe, se expressar, ser ouvido. Eu apontaria para isso, porque, no mundo juvenil, o que importa é a experiência, tocar com a mão uma realidade que se vive.
Além disso, é preciso voltar a uma séria formação, entender que certos momentos da sua vida se enraízam em algo muito importante. Os 13 anos passados naTerra Santa me levam a fazer uma análise totalmente diferente. Na Europa, o pertencimento à Igreja é uma escolha de fé motivada. No Oriente Médio, que é uma realidade "sagrada", isto é, não secular, é diferente: você é cristão porque você não é muçulmano ou não é judeu. A Igreja investiu muito no Oriente Médio por uma razão de formação cultural, humana, mas sobretudo de formação religiosa. O jovem cristão na Terra Santa parte de uma plataforma em que se reconhece que também deve ser mais defendida, porque está em minoria (na Palestina e em Israel, os cristãos nas várias divisões não chegam a 2%), em meio a duas presenças fortes, judaica e muçulmana. Portanto, a partir dessa identidade básica, dessa necessidade de autodefesa cultural e religiosa, o jovem também deve ser ajudado a fazer um certo caminho. Isso leva a uma participação na Igreja em todos os momentos relevantes da vida.
Luciano Manicardi – Eu enfatizo apenas um aspecto da separação entre Igreja e jovens. Na sociedade pós-tradicional (Hervieu-Léger) é necessária motivar novamente cada gesto e cada palavra da fé. A ignorância de fé impõe que não tomemos nada como óbvio. A credibilidade do Anúncio exige que cada palavra e gesto da fé encontre um fundamento antropológico sólido para se inserir. Assim, o analfabetismo de fé dos jovens deve ser captado como uma oportunidade para a Igreja repensar e renovar a sua própria abordagem e o seu próprio anúncio. E, portanto, para renovar a si mesma. Ou conseguimos motivar antropologicamente a fé, ou ela vai provocar no máximo um dar de ombros.
Aqui, o jovem se encontra em uma situação em que, de um lado, a cultura em que ele está imerso deve redefinir o humano (o que é um corpo humano, o nascer e o morrer humanos, a sexualidade humana?); de outro, a Igreja deve dar consistência ao seu próprio anúncio sabendo mostrar como a fé fala ao humano, dá sentido e direção ao humano. Precisamos reencontrar uma gramática do humano, reaprender o ABC da vida a partir das coisas elementares (comer, saudar, falar...) e redescobrir elementos removidos ou esquecidos (o pudor, a vontade, o silêncio...).
Nessa incerteza, a Igreja deve recuperar a dimensão do humano graças à qual um jovem poderá desenvolver uma fé autêntica e uma capacidade de oração. Aprender a pensar, a ter uma vida interior, a "fazer silêncio", a viver a ascese (ideia bem compreensível para jovens que fazem esporte ou tocam instrumentos musicais e que treinam e se exercitam todos os dias), a escutar e a habitar o corpo são alguns dos muitos movimentos humanos, humaníssimos, que um jovem deve aprender para poder ter um uma vida de relação séria consigo mesmo e com os outros. E,portanto, também com o Deus narrado à humanidade por Jesus de Nazaré.
Acredito que somente uma fé que saiba levar a sério a vida que um jovem vive, com a sua carga de ansiedade e de futuro, poderá encontrar credibilidade e acolhida junto aos jovens. Para isso, seria necessário desenvolver a dimensão sapiencial da fé a partir da tradição sapiencial bíblica, mas também das muitas vozes da cultura (cinema, literatura, música) que nos revelam algo sobre a alma humana, sobre a condição do ser humano no mundo.
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Fonte: IHU - Instituto Humanitas Unisinos
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