Beatriz de 12 anos criou blog para compartilhar sua experiência com a diabetes |
Beatriz Pinheiro descobriu há dois anos que tinha a doença. Ela conta que estava bebendo muita água, sentindo tontura e aceleração do coração. “Minha mãe marcou um pediatra e ele pediu uns exames. Eu fiz os exames, mas nem deu tempo de eu ver”, diz Beatriz, que passou mal no dia seguinte. A mãe dela, Luciana Cristina Pereira, levou a filha no hospital. “Pediram na hora um teste no Hospital São José e deu 303 de glicemia. Eles pediram para eu levá-la na Santa Casa de Santos. Quando chegamos lá já tinha aumentado 100, chegou a 403 a glicemia. Ela teve que ficar internada”, conta Luciana.
Recuperada, Beatriz começou outra etapa da vida, aprendendo a lidar com a diabetes. A mãe conta que essa foi a parte mais complicada e sofrida para a menina, que não aceitava ter a doença. “No começo foi difícil porque ela chorava muito. E a gente se assustou porque era uma coisa que ninguém sabia lidar, ninguém na família tem. O pai dela entrou em desespero. Eu comecei a ler e a me informar. Eu comecei a passar para ela que era normal”, explica a mãe da menina.
O segundo desafio foi na escola. “Eu fiquei assustada e chorei muito. Fiquei com medo e com vergonha de ir para a escola. Eu ficava com medo de ser discriminada. Depois que eu vi que não tinha nada de diferente”, diz Beatriz. Aos poucos, ela foi contando a novidade para os amigos. A professora, para ajudar na adaptação da menina e na aceitação dos amigos, preparou uma aula para explicar à diabetes. Assim foi mais fácil para os colegas entenderem porque Beatriz precisava tomar insulina e ter alguns cuidados com a alimentação.
Para conhecer mais sobre a doença, ela viu diversas reportagens na televisão e fez buscas na internet sobre o tema. Mas, segundo a menina, não encontrou muitos depoimentos de pessoas com a doença, principalmente de crianças. Por isso, resolveu montar um blog para falar sobre suas experiências, trocar informações sobre o assunto e também levar conhecimento para outros diabéticos. A página “Ter diabetes é fácil” já completou seis meses com centenas de visualizações. “Não tem muitos sites que respondem as nossas perguntas. Meu blog tem muito conteúdo e é na minha linguagem. Para pessoas da minha idade fica mais fácil de ler”, afirma Beatriz.
A mãe de Beatriz explica que a menina realmente tinha dificuldade de entender o que estava escrito em outros sites, que eram muito científicos, e que apoiou a ideia da filha. “Eles não falam o que as crianças querem saber. Uma criança falando para outra. É isso que ela pensou. A única coisa que eu falei para ela é que tinha que ter bastantes fotos, porque a pessoa tem preguiça de ler. Ela fez tudo sozinha”,conta Luciana.
No “Ter diabetes é fácil” há postagens sobre a doença, exercícios físicos, questões psicológicas, produtos diet e receitas para diabéticos. A parte de alimentação é a que Beatriz mais gosta de falar. Os alimentos dietéticos estão na mesa do café da manhã, almoço e janta da menina. São bolachas, geleias, chocolates, bolos, sucos e refrigerantes, tudo diet. O problema é que custam o dobro do preço. Por isso, além de comprar esses produtos, Beatriz e Luciana também foram para a cozinha fazer experiências. Elas transformaram pratos conhecidos em cardápios gostosos para os diabéticos. Sem querer, a menina tomou o gosto pela culinária. “Eu já fiz biscoito amanteigado que era com açúcar e a gente colocou o adoçante na mesma quantidade e ficou bom. Eu gosto do bolinho de chuva diet. Eu quero trabalhar com culinária”, afirma a menina.
Após dois anos da descoberta da doença, Beatriz se sente mais a vontade em falar como enfrenta a diabetes todos os dias. Ela precisa controlar o nível de glicemia, pelo menos, três vezes ao dia, por recomendação médica. Ela retira uma gota de sangue e um aparelho mostra o nível de glicemia sanguínea. Desta forma, ela sabe qual o tipo de alimentos pode comer e se a medicação e os exercícios físicos estão controlando a diabetes. “Simplesmente tem coisas que ela não pode comer, a diferença é essa. Tudo ela come mas, sempre, controlando”, diz a mãe. Também para controlar a glicemia, Beatriz precisa injetar doses de insulina.
Além disso, ela aprendeu a diagnosticar os próprios sintomas. Quando o nível de glicemia está alto, ela sente muita fome, a boca seca e uma aceleração do coração. Já quando está baixa, menos de 90, sente tremedeiras e sensação de desmaio. “Tem dia que ela passa o dia inteiro bem, tem dias que ela tem que tomar insulina o tempo todo. A glicemia dela dá um pico”, comenta a mãe. Luciana também comenta que o tratamento é caro e que, se não tivesse a ajuda de amigos na área da saúde, gastaria cerca de R$ 500 apenas em materiais e insulina.
Antes a diabetes era mais comum em idosos. Hoje, também afeta bastante adolescentes e crianças. Segundo a mãe da menina, a endocrinologista disse que tudo é mais complicado por causa da idade de Beatriz, que ainda está na puberdade e os hormônios tem uma variação maior. Por isso, mais que os adultos, ela tem que se controlar e controlar a doença todos os dias. Hoje, ela diz que tira de letra e tenta aceitar a diabetes da melhor forma possível. “Com o tempo, tendo experiências, quebrando a cara, deixando a glicemia cair e aumentar pra caramba, eu fui aprendendo”, diz Beatriz, que acredita que o blog servirá de exemplo para outras crianças tão especiais quanto ela.
G1 Santos e Região
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