sexta-feira, maio 03, 2013

O Sertão não vai virar mar

O Sertão não vai virar mar com as águas do Velho Chico, pelo menos se depender da Chesf e da Agência Nacional de Águas-ANA. Em meio a tantas promessas e projetos magníficos, construídos há décadas ao longo do São Francisco, nos quais o bem estar e a dignidade dos moradores ribeirinhos foram os itens menos valorizados, vemos que o único mar que se forma em nosso Sertão é feito de súplicas aos governos, preces a Deus e lágrimas da população, que ainda resiste em meio ao deserto de ações para divulgar técnicas de convívio com a estiagem, em lugares onde a esperança é apenas uma miragem, e a "ajuda do governo" não passa de carros pipas e esmolas, como as bolsas isso e auxílio aquilo. 

A cada novo longo ciclo de estiagem, o povo sertanejo é submetido à humilhação de ser protagonista de mais um rosário de campanhas de arrecadação de alimentos, recebidas com alegria e constrangimento. O sertanejo digno é "antes de tudo um forte", não quer receber esmolas nem sobreviver às custas da caridade solidária. A população do semiárido merece respeito. A notícia abaixo está no Boletim Interno no. 21 do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco-CBHSF, publicado nesta quinta-feira (02).

"Reunidos no município de Casa Nova (BA), nos dias 24 e 25 de abril, os membros da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco discutiram sobre diversos assuntos que preocupam os moradores da região, com ênfase na redução de vazões no Velho Chico. Ao falar da situação de seca e de fome que atormenta os moradores de Casa Nova, o prefeito da cidade, Wilson Cota, chegou às lágrimas, ao tempo em que solicitou ajuda ao Comitê do São Francisco.

“As famílias daqui estão vivendo na miséria por não terem o que comer e o que beber. Parece até filme, mas estamos nos aproximando do clima do deserto do Saara. As pessoas estão necessitando de ajuda, mas é muita a burocracia para se conseguir até um carro pipa. Agora com a redução de vazão, a coisa tende a piorar ”, disse o prefeito.

Membro do CBHSF e também preocupado com o futuro das águas do São Francisco, Israel Cardoso, que trabalha transportando passageiros no Velho Chico, teme maiores transtornos. “Eu trabalho com o transporte de pessoas e não posso contar com o acaso. Preciso saber como vai ficar o rio depois da redução de vazão para não correr o risco de a embarcação parar no meio da travessia”, disse.

Diante do cenário e das preocupações em torno da já decretada redução de vazão de 1.300 m3/s para 1.100 m3/s – decisão tomada pela Agência Nacional de Águas –, os participantes da reunião resolveram elaborar um documento condenando a redução, a ser debatido em um encontro, previsto para o dia 30 de maio, reunindo as CCRs do Submédio e do Baixo São Francisco.

Após a reunião, os membros do Comitê visitaram a Barragem de Sobradinho, que, de acordo com o site da Companhia Hidrelétrica do São Francisco – Chesf atingiu no dia de ontem (25.04), 45,8% do seu volume útil de água, com 3.160 m3/s de afluência e 1.600 m3/s de defluência. Os participantes também visitaram a Central Geradora Eólica de Casa Nova, um parque de energia eólica em construção no município.

A reunião foi conduzida pelo coordenador da CCR do Submedio, Totonho Valadares, e contou com cerca de 50 participantes, entre eles os seguintes membros do CBHSF: Avani Torres, vice presidente do colegiado;Ana Paula Farias Castro, secretária da CCR do Submedio; Juliana Baseos, da Companhia Pernambucana de Saneamento – Compesa; João Batista Silva, da Associação dos Produtores Rurais Irrigantes do Vale de Moxotó; Israel Cardoso, da Associação dos Proprietários e Condutores de Barcos da Ilha do Rodeadouro; Domingos Márcio Matos, da Colônia de Pescadores de Juazeiro; Johann Gnadllinger, do Instituto Regional de Pequena Agropecuária Apropriada; Almacks Luiz Silva, do CBH Salitre e Zuleide Monteiro, da AGB Peixe Vivo."

Da Redação do Blog de Assis Ramalho
Com informações e foto do CBH do São Francisco

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