sábado, maio 25, 2013

A Transposição do São Francisco é um projeto dispendioso e inócuo, dizem estudiosos

A população continuará sendo atendida por carros-pipa
após a conclusão da obra da Transposição e apenas
2% do território do semiárido é irrigável, afirma pesquisador
Esvaído em seu leito minguado, ao Velho Chico caberá uma responsabilidade maior do que as riquezas dele subtraídas. A mata ciliar escasseou, os minerais sumiram, os peixes desapareceram, e ainda assim as águas amansadas pelo assoreamento terão a missão de aplacar a sede no sertão nordestino. A transposição do rio São Francisco, que transpôs governos desde d. Pedro II, há século e meio, tem conclusão prevista para 2015. É o grande orgulho do governo brasileiro no combate às secas que assolam o semiárido, mas há quem diga ser uma sangria desnecessária do Velho Chico.

A polêmica nasceu junto com a ideia da transposição. Para grupos contrários, o desvio das águas põe o rio em perigo, não resolve o problema da seca e só beneficiará o grande capital, em especial os carcinicultores (criadores de camarão), industriais e empreiteiras. O professor de recursos hídricos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, João Abner Guimarães Júnior, considera um erro apostar num programa de desenvolvimento regional a partir da transposição do São Francisco. “É um programa inócuo”, avalia Abner, doutor em hidráulica e saneamento pela Universidade de São Paulo.

Primeiro, a transposição terá alcance restrito, a área de influência chega a apenas 5% do semiárido. Segundo, na prática a obra só irá transferir estoques de água do rio para grandes reservatórios já abastecidos. Para o agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco João Suassuna, grandes obras não darão cabo do sofrimento imposto pela estiagem. O problema não é a falta de água, mas a má distribuição.

As 70 mil represas existentes no Nordeste acumulam 10 bilhões de metros cúbicos de água, com capacidade para represar 37 bilhões, o maior volume de água represada em regime semiárido do mundo. “Mas não existe uma política para captar essa água e levar para quem precisa”, observa o pesquisador.

Suassuna é contra a transposição do São Francisco porque ela foi “vendida” como a obra que vai resolver o problema da seca no Nordeste. A água chegará aonde já existe em abundância. “A população no entorno dessas represas vai continuar passando sede e sendo abastecida por caminhões-pipa mesmo depois da transposição”, avalia. Somando-se o Norte de Minas Gerais, apenas 2% do território atingido pelas secas são passíveis de irrigação. O problema é o que fazer com os 98% restantes.

Para o pesquisador, o que está claro é que a transposição vai abastecer as represas, vai abastecer o grande capital. Não está claro como a água vai chegar à população, que continuará sendo atendida por caminhões-pipa. “É aí que está a verdadeira ‘indústria da seca’”, pondera Suassuna. Em 1994, durante congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), hidrólogos reunidos em Recife alertavam para a necessidade de uma melhor distribuição da água no semiárido. “Todos os alertas já foram feitos”, diz o agrônomo.

Para ler a matéria completa, clique aqui>Gazeta do Povo/A responsabilidade do Velho Chico

Fonte: Gazeta do Povo

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