O alto consumo de crack em Petrolândia, no Sertão de Pernambuco, é uma realidade à qual não se pode mais fechar os olhos. De acordo com pesquisa do Observatório do Crack, projeto da CNM-Confederação Nacional dos Municípios, a cidade já tem nível alto de problemas relacionados ao consumo de crack. Parte dos dados (veja abaixo, no final da matéria) está desatualizada, mas essa constatação é verdadeira. Petrolândia tem níveis alarmantes de consumo de crack e problemas sociais igualmente alarmantes acompanham a escalada do consumo, como desagregação familiar, violência doméstica e gravidez indesejada.
As ações de combate ao tráfico têm sido praticamente inócuas para impedir o crescimento do número de usuários, devido à disseminação de vendedores, à facilidade de obter a droga e à instantaneidade do vício, que começa por degradar pessoas, em seguida destrói famílias e, por fim, na condição de câncer social, estende seus danos à comunidade com um todo.
Esse terceiro estágio, que já vivemos em Petrolândia, é aquele em que os efeitos do uso do crack deixam de ser problemas apenas do usuário ou da família dele, e a cidade inteira começa a ver e sentir as consequências do uso de drogas. Chegamos nesse momento em que os viciados em crack são vistos perambulando pelas ruas e o cidadão transeunte se espreme às paredes ou muda de calçada para evitá-los. Chegamos ao momento em que os pontos de tráfico e consumo não estão mais concentrados em bairros mal afamados, porém bem mais próximo, levando constrangimento a comerciantes e moradores de diversos pontos da cidade, que hoje precisam trancar-se em casa e trancar bem a casa e - em casos extremos - fechar mais cedo as portas do estabelecimento.
Enquanto é a casa do vizinho que está pegando fogo, poucos são solidários para apagar o incêndio, muitos ignoram a fumaça e o desespero alheio, e vários assistem, calados e quietos, ao alastrar das chamas, como se isso fosse um espetáculo. "Não é problema meu", pensa o cidadão. No entanto, quando o fogo se alastra, com labaredas enormes prontas para tomar a sua própria casa, o cidadão desperta assustado para a realidade, diante da possibilidade de perder seu patrimônio: "Valhei-me, Deus! Bombeiros! Polícia! Socorro! A culpa é da prefeitura!"
Os grandes incêndios nascem de pequenas fagulhas que não foram combatidas em tempo. O consumo do crack cresce da mesma forma. A diferença é que, em vez de ar e material combustível, ela se alimenta do medo e do silêncio. A cidade colhe, agora, os frutos do medo e do silêncio, com o surgimento de sua própria "Cracolândia".
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Município: Petrolândia/PE
População Total(2010): 32.485 habitantes
Área: 1.057 km² IDH(2000): 0,688
Prog. de combate ao crack? Sim
Possui CAPS? n/d
Nível dos problemas relacionados ao consumo de crack: Alto
Demais informações
Possui COMAD? Não
Possui CRAS? n/d
Possui CREAS? Sim
Possui CREAS POP? n/d
Possui NASF? n/d
Possui Conselho Tutelar? n/d
Um trecho do poema "No Caminho com Maiakósvski", de Eduardo Alves da Costa, ilustra muito bem a escalada da violência e da opressão, quando o cidadão se exime das consequências de seu silêncio e do seu medo.
No caminho com Maiakóvski
"[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"
Trecho do poema "No Caminho com Maiakóvski" de Eduardo Alves da Costa.
Para consultar a situação de outros municípios no Observatório do Crack, no Portal da CNM, clique aqui>www.cnm.org.br/crack/
Da Redação do Blog de Assis Ramalho
Fonte: Observatório do Crack - CNM-Confederação Nacional dos Municípios
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