O objetivo da entrevista seria divulgar a instalação da Unidade Plena de Obstetrícia (Maternidade) que será inaugurada no Hospital Municipal Dr. Francisco Simões de Lima, a partir desta quarta-feira, 01 de maio. A maternidade oferecerá serviço completo de obstetrícia, com médicos obstetra e anestesia 24 horas por dia. Segundo Dr. Danilo, a partir dessa data, quando as mulheres em trabalho de parto chegarem ao Hospital Dr. Francisco Simões não devem mais passar no Pronto-Socorro, mas serão encaminhadas diretamente à Maternidade, para avaliação obstetrícia.
O médico também afirmou que a partir da mesma data, apenas casos de alto risco serão encaminhados para Hospitais fora de Petrolândia e, nesses casos, o Hospital vai pedir à central de regulação de leitos o encaminhamento para Caruaru ou Recife, por exemplo, e não mais para Paulo Afonso.
Durante a entrevista, Dr. Danilo fala sobre a recente morte de uma criança no Hospital, polemizada nas redes sociais. ''Estava eu de clínico geral no Hospital, estava Dr. Marcos (obstetra) e estava Dr. Antônio como anestesista. O parto se deu com uma complicação que pode acontecer no transnascimento, ou seja, a gestante fez o pré-natal todo certinho, direitinho, foram feitas todas as consultas. No dia que ela entrou em trabalho de parto veio para o hospital. Chegou aqui no hospital já com, mais ou menos, quatro centímetros de dilatação, bolsa íntegra, evoluindo bem, pressão boa, os batimentos da criança, tudo bem. Já com oito centímetros de dilatação essa criança começou a diminuir a freqüência cardíaca. No momento em que diminuiu a freqüência cardíaca, eu vi a paciente e liguei imediatamente para o Dr. Marcos. Ele veio imediatamente e quando ele chegou a gente não estava mais conseguindo auscultar a criança. No exame físico, a gente fez uma ultrassonografia e a criança tinha morrido. Mas por quê? O que aconteceu foi uma complicação no parto, chamada de prolapso de cordão. Não foi falha do Hospital."
Dr Danilo afirma que apesar da dor, os pais da criança entenderam o que aconteceu:
"Eu conversei com o pai e com a mãe, a tia que estava aqui no momento. O pai ficou chocado, o que é compreensível, porque ele perdeu um filho. Mas são pessoas que entenderam o que aconteceu. A mãe entendeu, a tia entendeu, o pai ficou na dúvida se não deveria ter sido feito uma ultrassonografia. Mas se ela tivesse feito um ultrassom de manhã e a criança ter nascido vinte minutos depois, não adiantaria de nada. Eu achei que a mãe e o pai, por serem pessoas de fé, pessoas evangélicas, eles conseguiram entender melhor o processo do que aquelas pessoas que não creem em Deus. Aquele momento para eles passarem, realmente, a fortaleza deles foi Deus, porque eles entenderam tudo que aconteceu. Se fossem pessoas descrentes, pessoas de pouca fé, seria mais difícil entender aquele processo ali''. ''Isso aconteceu num domingo. Na terça-feira à tarde eu fui à casa da família, visitar a mãe, porque era preciso levar uma medicação para inibir o aleitamento dela. Conversei com a mãe, conversei com a avó. Visitei a mãe, visitei o pai. Não foi fácil, mas eles entenderam''.
Acompanhe abaixo na íntegra a entrevista concedida por Dr. Danilo a reportagem do Blog de Assis Ramalho:
Perguntamos sobre a implantação da Maternidade no Hospital Municipal Dr. Francisco Simões de Lima.
Disse Dr. Danilo:
''A partir do dia 1º de maio o Hospital Dr. Francisco Simões de Lima vai ter um serviço completo de obstetrícia, com médico obstetra e anestesista 24 horas por dia. Atualmente o atendimento é feito por dois clínicos que trabalham no Pronto-Socorro e na sala de parto. A partir de primeiro de maio vai ter os dois clínicos no pronto-socorro e mais o serviço de maternidade completo, com um obstetra de plantão, um anestesista, técnico de enfermagem, responsável pela obstetrícia e enfermeiro. A partir dessa data, quando as mulheres em trabalho de parto chegarem ao Hospital Dr. Francisco Simões não vão mais passar no Pronto-Socorro, serão encaminhadas diretamente à Maternidade. O médico da maternidade é quem vai examinar e fazer a avaliação da parturiente. Se houver necessidade de parto cesáreo, é só chamar o anestesista e preparar o centro cirúrgico. O procedimento é ao sentir as dores do parto procurar o Hospital."
Como funcionava antes:
"Até este mês de abril, a gestante chegava ao Hospital e era avaliada no Pronto-Socorro. Se houvesse alguma anormalidade, como uma circular de cordão, e o parto normal não era indicado, a gente tinha que encaminhar para outra cidade, porque a gente não tinha obstetra nem anestesista. A partir de agora, a cesárea vai ser feita aqui mesmo, qualquer dia e hora, sem precisar encaminhar parturientes para outras cidades, como Recife e Paulo Afonso."
Segundo Dr. Danilo, a partir de maio, apenas casos de alto risco serão encaminhados para Hospitais fora de Petrolândia. Nesses casos, o Hospital vai pedir a central de regulação para encaminhar para Caruaru ou Recife, e não mais para Paulo Afonso.
"Os únicos casos que ainda podem ser encaminhados são os de alto risco, como, por exemplo, as crianças prematuras. O hospital ainda não tem um berçário com suporte para prematuros, com UTI neonatal. Assim haverá poucos encaminhamentos.Petrolândia é a cidade que menos encaminha parturientes para Paulo Afonso. “A média em Paulo Afonso é de 300 partos/mês, 350 partos/mês, e Petrolândia é a cidade que menos manda (parturientes). Agora, a gente vai tentar não mandar. Se chegar alguma gestante de 7 meses em trabalho de parto, a gente vai pedir à central de regulação para encaminhar para Caruaru, Recife, e não mais para Paulo Afonso. Antes, a gente mandava direto pro Hospital Nair de Souza e agora só vão ser encaminhadas pra fora as crianças que forem realmente prematuras. O problema não é o parto, em si. Ao parto, a gente dá assistência, mas se a criança precisar de encaminhamento para unidade de referência, nossas referências são Arcoverde, Garanhuns, Caruaru e Recife.”
Sobre a assistência a ser prestada pela Maternidade:
''A maternidade vai ser uma grande melhoria para a assistência à gestante. “A assistência à gestante, o pré-natal feito em Petrolândia é muito bom. A gente enfermeiros capacitados, tem médicos capacitados, o médico faz acompanhamento da gestante de alto risco. A gente tem tudo. Agora, o que a gente quer fazer é dar assistência na hora do nascimento, com serviço completo, com médico, com assistente, com enfermeiro, com tudo que tem que ter. Antes quem dava assistência era o médico do plantão. Agora, essa assistência vai ser feita por um obstetra, um especialista pra fazer isso"
Perguntamos sobre a mortalidade de bebês no Hospital:
“Existiam alguns casos que a gente sempre avaliou aqui, em Petrolândia, como, por exemplo, quando a criança prematura vinha para o hospital e nascia, só que a gente não tinha mais condições de transferir a gestante. Então a criança nascia aqui (no Hospital). Como a gente não tinha o suporte (de UTI neonatal) tem que enviar o prematuro para outra cidade. Algumas dessas crianças morreram na (Unidade de) Referência. Se a criança for prematura, mesmo com depois da Maternidade, a gente precisa enviar para outra cidade, não tem outro jeito. Petrolândia é um município de gestão plena em saúde, que pode resolver casos de assistência primária e secundária. Mas a assistência terciária, infelizmente, não é da competência do município."
Perguntamos se morreu alguma criança aqui mesmo no Hospital Dr. Francisco Simões de Lima.
''O que houve foi de uma criança que chegou no meu plantão. Estava eu de clínico geral no Hospital, estava Dr. Marcos (obstetra) e estava Dr. Antônio como anestesista. O parto se deu com uma complicação que pode acontecer no transnascimento, ou seja, a gestante fez o pré-natal todo certinho, direitinho, foram feitas todas as consultas. No dia que ela entrou em trabalho de parto veio para o hospital. Chegou aqui no hospital já com, mais ou menos, quatro centímetros de dilatação, bolsa íntegra, evoluindo bem, pressão boa, os batimentos da criança, tudo bem. Já com oito centímetros de dilatação essa criança começou a diminuir a freqüência cardíaca. No momento em que diminuiu a freqüência cardíaca, eu vi a paciente e liguei imediatamente para o Dr. Marcos. Ele veio imediatamente e quando ele chegou a gente não estava mais conseguindo auscultar a criança. No exame físico, a gente fez uma ultrassonografia e a criança tinha morrido. Mas por quê? O que aconteceu foi uma complicação no parto, chamada de prolapso de cordão. É uma complicação em que em vez da criança nascer primeiro, quem nasceu primeiro foi o cordão umbilical. Quando o cordão umbilical nasce primeiro ele sufoca a criança, ele não deixa a criança passar. Na passagem, entre o canal do parto, o cordão fica comprimido, então não circula mais oxigênio para a criança e ela vai a óbito. Isso é uma complicação inevitável, porque ela acontece durante o parto, não dá para a gente prever. Isso pode acontecer em qualquer hospital, em qualquer lugar''.
Perguntamos se foi falha do Hospital:
''Não. Não foi falha. Pelo contrário. A gente tinha obstetra, eu estava aqui, o anestesista estava de sobreaviso. O que aconteceu foi o prolapso de cordão, o fator crucial para a morte da criança. Eu conversei com a mãe, era a segunda gestação dela, ela tem um filho, e foi um momento difícil para todos nós. Tanto para a gente, como médicos, porque a gente sabia da complicação que aconteceu e é uma coisa inevitável e imprevisível, e a criança foi a óbito ainda na barriga da mãe, mas por conta do prolapso de cordão.''
A nossa reportagem quis saber se os pais da criança acusaram a equipe médica do Hospital:
''Não. Pelo contrário. Eu conversei com o pai e com a mãe, a tia que estava aqui no momento. O pai ficou chocado, o que é compreensível, porque ele perdeu um filho. Mas são pessoas que entenderam o que aconteceu. A mãe entendeu, a tia entendeu, o pai ficou na dúvida se não deveria ter sido feito uma ultrassonografia. Mas se ela tivesse feito um ultrassom de manhã e a criança ter nascido vinte minutos depois, não adiantaria de nada. Eu achei que a mãe e o pai, por serem pessoas de fé, pessoas evangélicas, eles conseguiram entender melhor o processo do que aquelas pessoas que não creem em Deus. Aquele momento para eles passarem, realmente, a fortaleza deles foi Deus, porque eles entenderam tudo que aconteceu. Se fossem pessoas descrentes, pessoas de pouca fé, seria mais difícil entender aquele processo ali."
Perguntamos se depois do acontecido alguém do Hospital tinha procurado os pais para conversar:
''Isso aconteceu num domingo. Na terça-feira à tarde eu fui à casa da família, visitar a mãe, porque era preciso levar uma medicação para inibir o aleitamento dela. Conversei com a mãe, conversei com a avó. Visitei a mãe, visitei o pai. Na dor qualquer um podia passar naquele momento, não foi fácil, mas eles entenderam''.
Perguntamos se, caso o hospital fosse totalmente equipado poderia ter sido evitada a morte do bebê:
''Não teria. Por exemplo, a UTI neonatal do Hospital Santa Joana é a referência que a gente tem hoje como melhor de Pernambuco, mas se fosse lá o parto normal, esse prolapso poderia ter acontecido do mesmo jeito que aconteceu em Petrolândia. Isso é uma complicação durante o parto e é inevitável."
Sobre a qualificação dos médicos que prestarão serviços na Maternidade:
''Todos os médicos que vão entrar na escala de obstetrícia realmente são médicos formados, já contratados ou que estão sendo contratados. Mas todos são médicos especialistas em obstetrícia, com residência médica. A gente tem Dr. Marcos, que é referência da gente aqui no hospital, tem Dr. William, que é professor da Universidade Federal de Alagoas, que vai vir aqui pra gente e vai ser uma aquisição muito boa, tanto na obstetrícia como na parte ginecológica. Tem Dr. Ney Fabrício que também é outra referência na região, em Delmiro Gouveia, Paulo Afonso, um obstetra atualizado, inclusive ele já deu plantão aqui em Petrolândia, já conhece o hospital. Tem Dra. Lícia, Dra. João Amorim. Todos com formação em obstetrícia''.
Sobre as dificuldades do Hospital em encontrar médicos para dar plantão:
''Eu acho que o momento agora da gente, em toda essa discussão sobre Petrolândia, em toda essa questão da saúde em Petrolândia, eu acho que a gente tem que entender uma coisa que está acontecendo diferente. O que a gente está querendo fazer nesse hospital agora é dar assistência básica de primeira qualidade, a gente já deixou dois médicos no plantão pra melhorar a assistência, a gente vai ter que contratar mais clínicos e mais pediatras pra dar assistência básica, cirurgião geral e a obstetrícia. Eu acho que o ganho pra Petrolândia com a iniciação da maternidade é um ganho que a gente só vai reconhecer, a população só vai entender isso, com o passar do tempo. Porque a gente tem que dar assistência do nascituro ao idoso, mas o nascimento tem que realmente ser prioridade. A gente tem que ter isso como marca principal. O grande problema da gente ainda é a carência de médicos. Hoje a gente vê que no Brasil há várias escolas médicas sendo abertas por aí, a torto e a direito, porém ainda existe essa carência de médicos e é uma dificuldade enorme arrumar um médico para dar plantão. O salário daqui de Petrolândia é igual ao salário de Paulo Afonso, é igual ao salário de outros locais, mas o problema por que não tem médico pra vir dar plantão. A gente vai atrás, batalha, eu já peguei listas de mais de 150 médicos que atuam na região de Paulo Afonso, já liguei para a grande maioria e o pessoal não quer vir. Com salário bom, com salário fixo, com contrato certo, porque a prefeitura daqui paga o salário certo, paga todos os seus direitos, paga na data certa, faz o contrato com você, mas realmente não tem médicos. Há carência de médicos da Atenção Básica: clínicos, obstetra, pediatra, Esses conseguimos porque a gente foi atrás, por insistência. A gente tem obstetras aqui que já fazem o ambulatório de obstetrícia, concursados do hospital: Dr. Marcos, Dra. Solange, Dr. Eduardo, Dra. Tânia. Para abrir o serviço de maternidade a gente foi atrás de novos médicos, Dr. Ney, Dra. Lícia, Dr. João Amorim, Dr. Luiz Carlos, Dr. Roberto, todos esses que vão vir pra gente poder acrescentar à assistência. A prioridade do Hospital este ano é fixar a maternidade, dar mais assistência no parto para complementar a assistência que já é dada no pré-natal''.
Perguntamos sobre os PSFs:
"Eu sou diretor médico do Hospital, eu respondo pelo Hospital. Mas, pelo que eu vejo no geral, a gente tem uma cobertura de mais ou menos 80% da população. Falta pouco para cobrir os 100%. O que faltam são médicos para completar os 100%, nos PSFS. O hospital está se propondo a fazer seu papel de dar 100% de atenção básica. A atenção básica é complementada pelo atendimento dos PSF. O hospital é municipal e tem a finalidade de dar assistência à população de Petrolândia, mas ainda é muito procurado pelos municípios vizinhos, porque, como a gente tem uma assistência melhor do que as outras cidades, a população migra e a gente tem que atender, mas isso dificulta o cidadão de Petrolândia ter acesso ao sistema (SUS)."
Para ver fotos da reportagem, clique aqui>Dr. Danilo Souza no HMDFSL
Da Redação do Blog de Assis Ramalho
Fotos: Assis Ramalho
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