Diogo Guedes in Jornal do Commercio
Há 85 anos, quando era apenas um adolescente de 15 anos, Rubem Braga (1913-1990) começou a publicar crônicas em jornais. Na época, apesar de já ter recebido a atenção de grandes nomes da nossa escrita, como Machado de Assis, José de Alencar e João do Rio, o gênero era pouco valorizado, sequer apontado como parte da literatura. A partir do trabalho de autores como Braga (mas não só por conta dele), cujo centenário foi comemorado ontem, a crônica foi se transformando em um gênero literário, em suas especificidades, quase que exclusivamente brasileiro. Hoje, ainda ocupa espaço na imprensa brasileira, mas se transferiu também para revistas e até mesmo para a internet.
Entender a crônica é buscar compreender o que ela traz de contingência e o que almeja para além da sua condição. Enquanto prosa e poesia no século passado se tornavam cada vez mais especializadas, foi esse híbrido entre jornalismo e literatura que continuou dialogando poeticamente com a massa de leitores. Talvez a sua principal vantagem tenha sido a de, em meio ao cotidiano cada vez mais asfixiante da modernidade, ser um relato sem pressa e subjetivo da realidade. Hoje, em tempos ainda mais velozes e em que a subjetividade se confunde com a aparência que criamos de uma personalidade nas redes sociais, a crônica parece ainda uma escolha mais radical.
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Pelo menos é isso o que pensa o escritor, jornalista e – na forma que prefere ser definido – “cronista de literatura” piauiense José Castello. Para ele, a crônica, desde Rubem Braga, se trata de “um gênero na contramão”. “A crônica trabalha sobretudo com a observação, a intuição, o silêncio, a contemplação, a introspecção. Esses atributos são considerados hoje – e não que eu concorde com isso – inatuais, antigos e ultrapassados”, pondera. “Vivemos em um tempo não de lentidão, mas de hipervelocidade; não da introspecção, mas das imagens, das grifes; não do profundo, do mergulho para dentro de si, mas em um tempo de um falatório interminável, dos talk shows”.
Nas suas coluna no suplemento literário Prosa e Verso, do jornal O Globo, Castello diz que tenta misturar o exercício de crítica literária com a ideia de uma crônica. “O meu ponto de partida não é nunca a teoria, é a observação, é uma espécie de relato de viagem das impressões que os livros trazem para mim. É uma espécie de crônica da leitura de livro”, descreve.
Para o professor de Letras Luiz Carlos Simon, autor do livro Duas ou três páginas despretensiosas: a crônica, Rubem Braga e outros cronistas, ainda hoje a crônica, mesmo que aceita como gênero literário, não tem a atenção que merece na academia. “Isso é um quadro até surpreendente, pois a crônica brasileira é uma modalidade de texto muito particular, afinada com a nossa cultura e com a nossa vida”, aponta.
Para ele, a crônica tem mudado nas últimas décadas. “Desde o surgimento de autores como Luis Fernando Verissimo e Mário Prata, há cerca de quarenta anos, o humor, que sempre foi uma das marcas do gênero, ganhou maior espaço como grande característica representativa da crônica. Isso não impede que muitos cronistas continuem a fazer, em seus textos, uma espécie de radiografia do cotidiano brasileiro”. É essa busca por uma radiografia da nossa vida, somada a uma fala franca, no mesmo nível do leitor, que parece ser o motor da crônica. “O caminhar do cronista é um pouco como o caminhar do malabarista na corda bamba. Ele está sempre no fio da navalha. A crônica é um gênero do limite, da fronteira” sintetiza José Castello.
Pelo menos é isso o que pensa o escritor, jornalista e – na forma que prefere ser definido – “cronista de literatura” piauiense José Castello. Para ele, a crônica, desde Rubem Braga, se trata de “um gênero na contramão”. “A crônica trabalha sobretudo com a observação, a intuição, o silêncio, a contemplação, a introspecção. Esses atributos são considerados hoje – e não que eu concorde com isso – inatuais, antigos e ultrapassados”, pondera. “Vivemos em um tempo não de lentidão, mas de hipervelocidade; não da introspecção, mas das imagens, das grifes; não do profundo, do mergulho para dentro de si, mas em um tempo de um falatório interminável, dos talk shows”.
Nas suas coluna no suplemento literário Prosa e Verso, do jornal O Globo, Castello diz que tenta misturar o exercício de crítica literária com a ideia de uma crônica. “O meu ponto de partida não é nunca a teoria, é a observação, é uma espécie de relato de viagem das impressões que os livros trazem para mim. É uma espécie de crônica da leitura de livro”, descreve.
Para o professor de Letras Luiz Carlos Simon, autor do livro Duas ou três páginas despretensiosas: a crônica, Rubem Braga e outros cronistas, ainda hoje a crônica, mesmo que aceita como gênero literário, não tem a atenção que merece na academia. “Isso é um quadro até surpreendente, pois a crônica brasileira é uma modalidade de texto muito particular, afinada com a nossa cultura e com a nossa vida”, aponta.
Para ele, a crônica tem mudado nas últimas décadas. “Desde o surgimento de autores como Luis Fernando Verissimo e Mário Prata, há cerca de quarenta anos, o humor, que sempre foi uma das marcas do gênero, ganhou maior espaço como grande característica representativa da crônica. Isso não impede que muitos cronistas continuem a fazer, em seus textos, uma espécie de radiografia do cotidiano brasileiro”. É essa busca por uma radiografia da nossa vida, somada a uma fala franca, no mesmo nível do leitor, que parece ser o motor da crônica. “O caminhar do cronista é um pouco como o caminhar do malabarista na corda bamba. Ele está sempre no fio da navalha. A crônica é um gênero do limite, da fronteira” sintetiza José Castello.
Jornal do Commercio
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