Neste 03 de agosto comemora-se o 367º da Batalha do Monte das Tabocas. Nessa data nasceu o Leão do Norte, epíteto pelo qual Pernambuco é conhecido. Reproduzimos o texto de José Wilson Vilar Sampaio Jr. sobre esse episódio praticamente desconhecido dos pernambucanos, nesta postagem sugerida pelo leitor Romário.
No dia 03 de agosto de 1645, aconteceu no Monte das Tabocas, elevação situada na zona rural do município da Vitória de Santo Antão, uma batalha de extrema importância para o destino de Pernambuco e do Brasil: A BATALHA DO MONTE DAS TABOCAS entre o exército do invasor holandês e os pernambucanos.
Durante muito tempo essa batalha ficou relegada a segundo plano, ofuscada que foi pelas batalhas dos Guararapes acontecidas em 1648 e 1649.
Realmente, na comemoração do evento "Restauração Pernambucana" sempre é solenizada a Batalha dos Guararapes como sendo a grande derrota sofrida pelos holandeses e que refletiu, cinco anos depois, na rendição total dos batavos, na Campina do Taborda, em 27 de janeiro de 1654.
Mas, justiça deve ser feita ao início de toda glória pernambucana e ao fato histórico que fez com que a Capitania de Pernambuco ficasse conhecida pelo Brasil de então como terra de gente brava e destemida, verdadeiros leões na guerra: A Batalha do Monte das Tabocas.
Será que se não tivesse acontecido a batalha do Monte das Tabocas em 1645, haveriam as duas batalhas dos Guararapes em 1648 e 1649? Será que os flamengos seriam finalmente vencidos e obrigados a deixar o Brasil? Ou no mínimo, será que a ocupação holandesa não se prolongaria além de 1654, perdurando talvez até hoje?
Com efeito, em 1640 Portugal conseguiu libertar-se da Espanha, pondo fim ao longo período conhecido como União Ibérica (que durou de 1580 até 1640), ascendendo ao trono português o rei D. João IV, o "Restaurador", da dinastia dos Bragança.
Ao recuperar sua independência, Portugal estava militarmente enfraquecido, com sua armada praticamente inoperante por força das batalhas que teve de participar ao lado da Espanha. Assim, o rei D. João IV foi obrigado a assinar tratados e alianças com outros governantes para assegurar que Portugal não seria atacado por reino europeu, incluindo a República das Províncias Unidas (Holanda).
Daí ter assinado uma trégua com os holandeses, deixando que eles continuassem explorando as Capitanias já conquistadas sem nenhuma exigência, fato que na prática significava abrir mão do nordeste brasileiro... Mas, quando o Conde Maurício de Nassau encerrou seu período administrativo em 1644, os pernambucanos romperam ostensivamente a trégua e iniciaram a revolta com pequenos grupos atacando os batavos e queimando os canaviais, prevalecendo-se do elemento surpresa.
Os holandeses decidiram pôr um fim na situação de revolta que se delineava e destacando um bem armado exército partiu para o confronto direto na Vila de Santo Antão, no lugar Monte das Tabocas.
Nessa batalha, pela primeira vez uma potência estrangeira militarmente organizada com o que havia de mais moderno em armamentos e táticas de guerra, além de numericamente superior, foi humilhada por um verdadeiro exército à Branca Leone: Uma força guerreira nunca vista pelo mundo, eis que formada por três raças diferentes que se uniram imbuídos pelo mesmo ideal - apesar das imensas diferenças existentes entre elas - e ousaram enfrentar um exército profissional possuidor de vasta experiência e tradição militar. Ousaram e venceram!
Por isso, a batalha dos Montes das Tabocas, acontecida há 367 anos atrás, reveste-se de fundamental importância para a nossa História e para nossa formação étnica, porque graças à nossa retumbante vitória nas Tabocas, Portugal voltou a se interessar em manter íntegro o território do Brasil Colônia, passando a acreditar que os invasores holandeses poderiam ser expulsos e então direcionou acanhados recursos, material e humano, destinados à preparação de um exército restaurador, como o que se bateu e venceu os flamengos nas duas batalhas dos Guararapes.
E não era para menos... Os holandeses comandados pelo Coronel Hendrick Van Hans, somavam 1.900 soldados profissionais, todos armados e auxiliados por negros e índios Tapuias (ferozes guerreiros), enquanto que os brasileiros contavam cerca de 1.200 homens, com apenas 200 armas de fogo, facas, lanças e espetos de pau tostado. E mesmo assim, graças à tática empregada (emboscadas), brilhou o valor pessoal dos nossos soldados entre os quais destacamos os Capitães João Paes Cabral, Agostinho Fagundes, João Nunes da Mata, Jerônimo Cunha do Amaral, João Gomes de Melo, Padre Simão de Figueiredo, o Sargento Mor (Major) Antônio Dias Cardoso (português e grande nome da batalha), além do próprio João Fernandes Vieira.
Desnecessário dizer que nossas forças eram compostas - na grande maioria - de pernambucanos valentes e destemidos, fato que nos autoriza a afirmar que o dia 3 de agosto de 1645 foi o primeiro round de uma luta, na qual o inimigo saiu bastante machucado, comprometendo sua resistência, ferindo seu orgulho e sua confiança, abalando-o e fazendo-o perder os rounds restantes até a derrocada final.
Fonte: Usina das Letras
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=6295&cat=Ensaios&vinda=S
Muito bom ver o texto do Sr. Wilson ser replicado.
ResponderExcluirEternas admiracao e saudades pelo mesmo.
Assis, o sr ja leu sobre a historia de pernambuco contada em sonetos que o Wilson Vilar escreveu? Sim, é um Camões pernambucano!
Obrigado, Thiago! Ainda não tivemos o prazer de conhecer a obra citada por você. Abraço!
ExcluirObg pela ajuda
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