'' Meu sonho é ser velado dentro do cemitério de Petrolândia'' diz Zé de Davino.
Fotos: Assis Ramalho)
Fotos: Assis Ramalho)
Zé de Davino em seu ofício
Para a maioria das pessoas, cemitérios são locais onde tudo morre, vira pó e passado. Alguns chegam a ter medo de pôr os pés no lugar, outros têm medo de assombração. Mas, para José Matias Sobrinho, 52 anos, conhecido popularmente por Zé de Davino, o cemitério é um lugar com o qual se identifica e onde nada termina; pelo contrário, tem início.
Há mais de 20 anos no ofício de coveiro no Cemitério São Francisco, situado na Quadra 14 de Petrolândia, no Sertão de Pernambuco, Zé de Davino diz fazer o serviço com amor e afirma não querer exercer outra profissão, enquanto estiver com vida neste planeta. Em entrevista à reportagem do Blog de Assis Ramalho, Zé de Davino diz que o seu sonho é morrer dentro do cemitério de Petrolândia, onde trabalha. "Trabalho aqui com muito amor, gosto da minha profissão, e pra falar a verdade o meu sonho é morrer aqui dentro do cemitério e ser velado nesta capela. Mas se por acaso eu morrer em um local fora do cemitério, eu quero que o meu corpo seja velado aqui, na capela do cemitério", disse.
Perguntado se não tem receio de abrir uma cova altas horas da madrugada e se já viu alguma assombração, Zé de Davino responde que não tem medo de alma. "Durante todo esse tempo em que eu trabalho em cemitério, eu nunca vi nenhuma assombração, que dizem existir. Por várias vezes, venho aqui altas horas da noite abrir uma cova, sem nenhum medo. Essa história de assombração é conversa do povo, porque, se fosse verdade, eu já tinha visto várias aqui. Quem faz medo são as pessoas vivas."
Perguntamos a ele qual foi a cova que abriu com mais emoção, a que mais o marcou, por se tratar de sepultamento de uma pessoa querida, Zé afirmou que foi a de um colega de profissão. "A gente sente muito quando tem que abrir uma cova para o sepultamento de uma pessoas querida e isso já aconteceu muito comigo. Mas, a que mais me marcou e a que eu mais senti foi no dia em que tive de abrir a cova do meu amigo Francisquinho (Francisco Lopes), que trabalhava comigo desde a velha cidade. A gente era muito amigo. Naquele dia, eu abri a cova com lágrimas nos olhos. Foi muito difícil", disse, em tom de tristeza.
Zé de Davino diz que hoje o seu trabalho é menos árduo. Segundo o coveiro, antes da chegada do Núcleo do Corpo de Bombeiros a Petrolândia, ele era o "faz tudo". Quando alguém morria afogado, era eu que mergulhava para procurar o corpo do morto. "Quando aparecia alguma pessoa morta, no mato, já fedendo, era eu que ia pegar. Sempre fiz esse trabalho e ainda faço, é só me procurar. A qualquer dia, a qualquer hora, eu estou pronto pra servir."
"A humanidade é infeliz por ter feito do trabalho um sacrifício e do amor um pecado." Henrique José de Souza
Redação do Blog de Assis Ramalho
Fotos: Assis Ramalho
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